sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Tem não tem.




Ele chegou mais uma vez ao trabalho.
Estava se sentindo muito mal.
Estranho como nas suas últimas folgas almejava tanto estar ali naquela rotina e agora que ali está já não dá mais valor. Ficou afastado do serviço por quase seis meses e sonhava voltar. Não suportava o tédio nas horas vagas em casa.  -Quero o trabalho, a missão o agir, o barulho a agitação -  Abominava aquele marasmo que já fora antes também sonhado.
Quando voltou tudo voltou.  O mesmo antigo padrão execrado e depois almejado ali estava.  O burburinho virou algo incômodo e queria de novo o marasmo.
Passou a fazer tudo maquinalmente sem ver o encanto que imaginou enquanto estava parado.
Pensou naquele momento nos paradoxos da existência: Quando se tem não se quer, muito  se quer  quando não se tem. Valorizamos algo em sua ausência e desprezamos na presença. Como a vida funciona toda ao contrário? Projetamos as carências como guias coroando-as e endeusando-as. E pensar nisso não resolve isso. O hoje nunca é verdade, o ter nunca satisfaz.
Refletindo essa questão empurrou a  porta do estabelecimento com força e raiva e pensou: - Mais um dia, tudo igual, arc.


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