José andava sempre seguido pelo cachorro.
Era o fiel companheiro. Onde ele ia o
cachorro ia atrás.
Apelidou-o de chicletinho sempre grudado
no dono. E para ficar ainda mais carinhoso o apelido, depois de algum
tempo passou a chamá-lo de chicletinho de orelha. O cão atendia sempre que o
chamava assim. Era um amigo dócil e companheiro de todos os momentos.
Os dois andavam
pelas ruas. De vez em quando se olhavam. Era um olhar de ternura e proteção do
chicletinho para o homem e do homem para o chicletinho. Naquele olhar
podia-se notar toneladas de ternura e outras tantas toneladas de
cumplicidade. Se completavam, se aninhavam, se protegiam.
o
cachorro ia à frente, mas de vez em quando parava, olhava o dono com aquele
olhar como quem está conferindo se seu
fiel protetor estava mesmo por perto e então se punha novamente a a andar.
Chegaram às margens de uma avenida muito
movimentada. O homem atreveu-se a atravessar a barulhenta via, mesmo sabendo do
risco e da possibilidade de ali ser ceifada sua vida. Os carros passavam como
foguetes quase não se podia ver suas cores, eram manchas coloridas riscando o
tempo e o espaço. Tinha uma passarela logo à frente, mas ele a ignorou. Acreditou na sorte e seu chicletinho também.
No momento da travessia desequilibrou-se e caiu
ouviu o som irritante de uma freada e olhou atônito dois faróis se
aproximarem muito rapidamente. Como olhos inquisidores que cobravam satisfação
pela sua irresponsabilidade vieram sobre ele e o engoliram. Um corpo estirado
no chão, cena talvez corriqueiros nos agitos de mais uma manhã naquela cidade
louca.
O chicletinho ficou ali, atento,
protegendo seu dono e bradando com todos que se aproximavam. Tinha ali o seu
tesouro de afeto e precisava protegê-lo.
Quando o resgate chegou os paramédicos se
esforçaram para atender o homem pois o cão estava arredio e não deixava que
ninguém chegasse perto.
com muita dificuldade conseguirem
colocar aquele senhor na ambulância, o que de nada adiantaria pois morreria
poucos segundos depois.
chicletinho saiu desesperado atrás, correu
feito um louco até que não mais conseguiu acompanhar o veículo. A principio
resoluto depois foi se cansando e seus passos ficaram lentos. Não conseguia
mais.
E viu seu fiel parceiro sumir para sempre
entre todos aqueles carros. Seus olhos
tristes ao longe. A vida! Num instante temos tudo e no outro não temos nada.
Antes: o olhar terno e seguro que tem protege e é protegido. Agora: o olhar triste do abandono
e do nunca mais.
Seguiu pelas ruas. Não era mais
chicletinho de ninguém.
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