sexta-feira, 26 de abril de 2019

Lá ele não desce.

Ele  olhava a janela: via prédios e luzes. Um Cristo redentor brilhava no alto da serra.

Quando era pequeno viajando de carro com seus tios, espantou-se quando a tia falou: Olha lá o Cristo!  Então pensou: Incrível! Ele desce aqui. Vem direto do céu e fica voando pela cidade. La na nossa terra ele não desce. Será que é  ele mesmo? O Senhor poderoso descendo por aí...

 Nossa como é bonito e brilhante! 

 E o  Cristo era um espectro de luz  abrindo os braços iluminados sobre a cidade. Bem maior do que é agora. Divino poderoso descendo dos céus nessa terra privilegiada. La não tem isso não!  

Agora olhando aquela cidade sentia-se desolado e tenso. E deixou-se ser invadido por acontecimentos   memoráveis ali vividos. Momentos que não poderá esquecer. Quanta coisa aconteceu desde a descoberta daquele Cristo poderoso! O antes verdadeiro agora estátua. Decepções, alegrias sonhos , amadurecimento. Uma vida se passou, uma vida incrustada entre aquele Cristo e esse de agora. 

 Sentia-se velho e preterido pela vida. Tudo ficou no passado não era mais o mesmo. Ah que saudosismo besta!  pensou: o importante é o agora.  

O Cristo abria seus  braços para ele  enquanto a melancolia fechava os dela em volta do seu pescoço e o apertava com o aperto dos velhos amigos. Sufocante abraço presenciado pelo Cristo acolhedor  e iluminado pelas tristes luzes da madrugada naquela cidade.

 Desça Cristo e socorra-me... 

O Cristo continuava  lá, quietinho em cima da serra...

Pará de Minas  MG 30/03/2019.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

 Neste site,  um pouco da carreira literária de Múcio Ataide, seguindo o caminho das letras para  brindar a vida e descobrir seus encantos e...