Autoria Múcio Ataide
A festa
estava animada.
Tereza queria pular, mas estava com medo. A
pequena fogueira já estava quase apagando e as amigas juravam que se pulasse
casaria. Era simpatia antiga, após o pulo falaria três vezes bem baixinho: “Santo Antônio vem me ajudar eu quero casar, Santo
Antônio vem me ajudar eu quero
casar, Santo Antônio vem me ajudar eu
quero casar”. Não podia perder a chance,
depois dessa só daqui há um ano. Certa vez enterrara o pobre santo de cabeça para baixo,
mas parece que só por pirraça ele não quis colaborar. Agora seria mais simpática
com os versinhos. Quem sabe assim conseguiria?
Deu uma volta
pelo terreiro para criar coragem, distraiu-se um pouco e esqueceu sua angustia
ao ver a turma animada dançando o arrasta-pé, enquanto as peneiras cheias de biscoitos, pipoca e canjica rodavam para lá e para cá. Adorava as festas juninas! Era quando a casa se
iluminava. Uma luz brilhando naquele ermo de dias e dias insonsos, sem
nada de extraordinário acontecer. Agora estava ali sentindo toda aquela alegria
no ar. Casa branca ao pé da serra, terreiro de chão batido, dança e música, a
bandeira de santo Antônio imponente em cima do mastro depois do divertido não
bambeia não, tudo era muito lindo... Era o pouco de diversão que podia existir na vida daquela moça
da roça, não muito bonita, cheia de sonhos e esperanças, presa à rotina massacrante daquele ermo, um
reduto de espera no meio do nada. Mas a
noite estava linda e a vida era boa apesar de tudo.
Lembrou-se que devia pular a fogueira e a
angústia da dúvida voltou.
Decidiu-se enfim, saiu correndo e se jogou... mas no momento em que terminava o pulo, bambeou, desequilibrou-se, quase
caiu e foi amparada pelas mãos firmes e até atrevidas de João da Silva. Pronto! Tudo resolvido. Não precisava nem recitar os versos. Por causa daquelas mãos firmes em sua cintura
e daquele olhar malicioso do rapaz,
sabia que o pulo havia valido. Obrigado
Santo Antônio. Agora era só dançar a quadrinha e seguir o “não bambeia não” da
vida...
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