segunda-feira, 15 de julho de 2019

BAMBEIA.

Autoria Múcio Ataide

A festa estava animada.

 Tereza queria pular, mas estava com medo. A pequena fogueira já estava quase apagando e as amigas juravam que se pulasse casaria. Era simpatia antiga, após o pulo falaria três vezes  bem baixinho:  “Santo Antônio vem me ajudar eu quero casar, Santo Antônio vem me ajudar  eu quero casar,  Santo Antônio vem me ajudar eu quero casar”.  Não podia perder a chance, depois dessa só daqui há um ano. Certa vez  enterrara o pobre santo de cabeça para baixo, mas parece que só por pirraça ele não quis colaborar. Agora seria mais simpática com os versinhos. Quem sabe assim conseguiria?

Deu uma volta pelo terreiro para criar coragem, distraiu-se um pouco e esqueceu sua angustia ao ver a turma animada dançando o arrasta-pé, enquanto as peneiras cheias  de biscoitos, pipoca e canjica  rodavam para lá e para cá. Adorava  as festas juninas! Era quando a casa se iluminava. Uma luz brilhando naquele ermo  de dias e dias insonsos, sem nada de extraordinário acontecer. Agora estava ali sentindo toda aquela alegria no ar. Casa branca ao pé da serra,  terreiro de chão batido, dança e música, a bandeira de santo Antônio imponente em cima do mastro depois do divertido não bambeia não, tudo era muito lindo... Era o pouco de diversão que podia existir na vida daquela moça da roça, não muito bonita, cheia de sonhos e esperanças,  presa à rotina massacrante daquele ermo, um reduto de espera no meio do nada.  Mas a noite estava linda e a vida era boa apesar de tudo.

 Lembrou-se que devia pular a fogueira e a angústia da dúvida voltou.

 Decidiu-se enfim, saiu correndo e se jogou... mas no momento em que terminava o pulo, bambeou, desequilibrou-se, quase caiu e foi amparada  pelas mãos firmes e até atrevidas de João da Silva. Pronto! Tudo resolvido. Não precisava nem recitar os versos.  Por causa daquelas mãos firmes em sua cintura e daquele olhar  malicioso do rapaz, sabia que  o pulo havia valido. Obrigado Santo Antônio. Agora era só dançar a quadrinha e seguir o “não bambeia não” da vida...

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