O dia terminava. Manchas vermelhas coloriam o fim de tarde. O céu era um misto de vermelho
e amarelo um maravilhoso degradê. As cores se misturavam emaranhadas num novelo
de beleza e encanto. Um vento frio de inverno soprava um sino, ao longe
anunciava Ave Maria e a escuridão aos poucos apagando as cores do dia...
José estava sentado no mourão da
porteira com um olhar distante perdido no horizonte vendo o maravilhoso espetáculo. Sempre em tardes assim era envolto por uma atrevida melancolia que vinha sempre
acompanhada de um estranho arrepio que percorria
todo o seu corpo e o fazia gelar. Era o momento de ser invadido pelas lembranças
e indagações. Passava em revista toda a
vida fazendo uma espécie de retrospectiva, analisando as perdas e acertos e
lamentando muita coisa: Lembranças ao longe acenando, a
meninice perdida nos escombros do tempo, ouvia as frases não ditas, os milhares
de eu te amo não proferidos ao longo da existência, as dores sepultadas no
tempo, a vida se esvaindo e tantas outras coisas, mil ideias, um universo de
divagações...
A tarde é uma dama bonita
elegante, sedutora, mas que carrega
consigo um mar de tristezas. Com seu doce beijo ela faz acordar todas as mágoas
e todos os lamentos.
Ficou olhando aquilo até que a noite apagou de
vez o colorido, mas não apagou a tristeza.