terça-feira, 6 de agosto de 2019

Tarde


O dia terminava.  Manchas  vermelhas coloriam  o fim de tarde. O céu era um misto de vermelho e amarelo um maravilhoso degradê. As cores se misturavam emaranhadas num novelo de beleza e encanto. Um vento frio de inverno soprava um sino, ao longe anunciava Ave Maria e a escuridão aos poucos apagando as cores do dia...
José estava sentado no mourão da porteira com um olhar distante perdido no horizonte  vendo o maravilhoso espetáculo.    Sempre em tardes assim era envolto por uma  atrevida melancolia que vinha sempre acompanhada de um estranho arrepio que  percorria todo o seu corpo e o fazia gelar.   Era o momento de ser invadido pelas lembranças e indagações.  Passava em revista toda a vida fazendo uma espécie de retrospectiva, analisando as perdas e acertos e lamentando muita coisa:  Lembranças  ao longe acenando,   a meninice perdida nos escombros do tempo, ouvia as frases não ditas, os milhares de eu te amo não proferidos ao longo da existência, as dores sepultadas no tempo, a vida se esvaindo e tantas outras coisas, mil ideias, um universo de divagações...
A tarde é uma dama bonita elegante, sedutora,  mas que carrega consigo um mar de tristezas. Com seu doce beijo ela faz acordar todas as mágoas e todos os lamentos.
 Ficou olhando aquilo até que a noite apagou de vez o colorido, mas não apagou a tristeza.


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