quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

FELIZ NATAL FELIZ 2021 - CONTO NATAL COM LALAU.

Olá amigos!Abaixo o meu costumeiro conto de natal, com mistério um pouco de suspense só pra variar e uma mensagem de amor. Natal é doação e partilha e ao fazer isso você vive uma grande alegria, algo maravilhoso. 

E antes de apreciarem o conto eu  quero desejar a todos muitas coisas boas 


 UM FELIZ NATAL, E UM PRÓSPERO 2021. 


NATAL COM LALAU 

 

É um pouco difícil explicar o que aconteceu. Por que a história  é rodeada de mistérios, e se bem analisada, dá margens a muitas interpretações, mas vamos lá:

Na véspera do natal, na chamada noite feliz, minha esposa e eu  temos  o costume de distribuir alimentos nas ruas.  Sentimos  uma sensação muito boa ao  ver a alegria das pessoas quando recebem  algo especial naquela noite. Nossa cidade é pequena, não tem muitos moradores de ruas, mas os poucos que tem merecem a nossa atenção. Além do alimento ganham  também o abraço e isso é o que faz a diferença. Quantas vezes  vi gente chorando e chorei também. A sensação maravilhosa de partilhar alguma coisa. Não é assistencialismo, nem nos consideramos melhores que aquelas pessoas. Na verdade acho que os grandes carentes somos nós. Carentes de amizade de um sorriso, e de um abraço  Tudo isso faz muito bem a nossos corações sedentos de amor.

Naquele ano resolvemos ir até a cidade vizinha para fazer as compras para a grande noite. Um grande supermercado que se instalara por lá estava com preços muito bons, compensando até o combustível gasto. Então fomos.

O supermercado distava quinze quilômetros de nossa cidade  quando estávamos na metade do caminho, notei um barulho estranho em minha caminhonete. Não demorou muito tempo para que fossemos obrigados a parar. Saía uma fumaça esbranquiçada  do motor. Tentei consertar mexendo nalgumas peças, mas a verdade é que não entendo nada de mecânica. O celular estava fora de área, os dados móveis também não funcionavam, ficamos ali sem saber o que fazer.

Existia uma casa à beira da estrada e vindo daquela direção vi um senhor bem idoso, gordo, tinha  barba grande e bem branca. Usava  uma camiseta vermelha puída com a frase feliz natal em letras bem grandes. Falei brincando com a minha esposa: O papai Noel veio nos salvar. Ela sorriu e disse: - Faltou só o saco de brinquedos.

O homem se aproximou-se  e disse sorrindo: - Bom dia  amigos, algum problema no carro?

-Sim – respondi – Eu não sei o que aconteceu, mas está saindo uma fumaça estranha do motor e  eu não imagino o que seja.  – O homem falou num tom de voz Cortez e muito calmamente.

-Como é o seu nome?

-Eu sou Marcos e essa é minha esposa Kelli.

-Muito prazer Senhor Marcos e senhora kelli.

-E como é o nome do senhor?

-Olha, eu sou tão velho que acho que até já esqueci meu próprio nome, mas me chamam por aí de Lalau, então podem me chamar assim

-É um prazer Sr Lalau.

-Sr. Marcos me permite dar uma olhada no motor de seu carro? Eu entendo um pouco de carros. Embora meu último tenha sido um modelo muito antigo. Se eu contar a vocês nem vão acreditar. Era antigo, mas muito bom. Se eu, desse corda, ele até voava.   E com ele viajei  por muitos lugares. Nem pode imaginar por quantos! Em épocas como essa principalmente.

 -Então o carro do senhor deveria ter muitos cavalos no motor.

-Era incrível meu veículo, mas não era puxado exatamente por cavalos. 

-E então senhor, a caminhonete tem conserto?

-Espere aí vou buscar algumas ferramentas

O homem demorou um pouco e voltou trazendo um saco também  vermelho enorme nas costas e de dentro dele tirou  algumas chaves esquisitas, mexeu nas engrenagens, apertou alguns parafusos, depois parou sorrindo.

–Acho que essa fumaça que mais parecia neve não vai mais incomodar. Graças as minhas super chaves especiais.

 

-Nunca vi dessas chaves – eu disse – São bem  diferentes.

-Ele emitiu  uma gargalhada que soou como HOHO e disse -  São produzidas em um  lugar muito distante.  E por falar em chaves: Dê na chave

-Ótimo Sr. Marcos, seu carro está funcionando perfeitamente. Pode seguir em paz seu caminho e  boa viagem para vocês.

-Quanto eu devo ao senhor pelo serviço?

-Não me deve  nada amigo. Fica de presente de natal

-Então muito obrigado senhor e  um feliz natal para o senhor e para sua família.

-Feliz natal para você também. Pode ficar tranquilo o carro não dar mais problemas por hoje. Ah e dê um abraço por mim em seus amigos de logo mais.

Seguimos nosso caminho fizemos as compras e compramos um presente para aquele senhor. Era uma camisa nova, vermelha, extra G, era o mínimo que podíamos fazer depois da ajuda que ele nos deu.

Estacionei próximo à casa de onde ele  havia vindo e bati palmas. De lá surgiu uma mulher jovem de aproximadamente vinte anos e pelo que pudemos notar muito pobre. Tinha os olhos fundos e parecia pálida. Junto dela vieram três crianças. Todos pareciam passar fome.

Perguntei meio sem jeito;

-Eu queria falar com o Sr. Lalau.

-Com quem?

-Seu Lalau, ele não mora aqui?

-Não, aqui moramos eu e meus filhos.

-Bem, eu o conheci hoje, imaginei que fosse seu pai. Ele consertou meu carro usando umas chaves muito esquisitas, bem diferentes.

-Eu não sei quem é esse.

-Mas ele saiu dessa casa, então deduzi que morasse aqui.

-Meu senhor eu moro aqui ha dez anos, eu não conheço ninguém com esse nome por aqui.

Fiquei confuso sem saber o que pensar. Não restava outra saída a não ser ir embora.

Aproveitei para deixar com aquela mulher parte das coisas que compramos, para que ela pudesse  alimentar aquelas crianças. E outra vez senti a força das lágrimas de agradecimento. Prazer que se repetiu à noite em nossa via sacra pelas ruas da cidade. E a essa alegria nada se compara.

Despedimo-nos dela e das crianças e seguimos pela estrada.

Num dado momento estarreci, e tremendo falei para minha mulher:

-Kelli, você se lembra do que ele disse quando nos despedimos?

-Não prestei muita atenção.

- Eu também não. Estava tão contente com o conserto do carro  que nem reparei no que ele disse, mas agora caiu a ficha. O Sr. Lalau falou:  “pode ficar tranquilo o carro não dar mais problemas por hoje. Ah e dê um abraço em seus amigos de logo mais”

-Entendi Marcos, em momento algum dissemos a ele das nossas intenções para a noite.

Naquele momento uma enorme onda de felicidade me invadiu e mais intrigado fiquei quando numa árvore da estrada vi pendurada a camiseta vermelha puída, hasteada como se fosse uma bandeira balançando ao vento com a frase:  FELIZ NATAL.

 





terça-feira, 1 de dezembro de 2020

 NOITE FELIZ NO CANTINHO 

 

Cheguei  à festa. A mesma balbúrdia de sempre. No começo gostei,Fiquei animado com as brincadeiras dos mais exaltados, cumprimentei a uns e a outros com meu jeito acanhado e depois de algum tempo aquilo começou a me incomodar.

Sou introvertido e muito tímido e essas reuniões sociais são bem complicadas para mim.

Gosto do natal e acho importante a reunião da família e a celebração, mas o meu jeito de ser e minhas limitações não me permitem sentir-me à vontade nesses momentos.

Horrorizei-me ao pensar que logo viria o amigo oculto e queimei de vergonha ao pensar que teria que ir à frente da roda, dizer palavras, tentar advinhas, me expor. Tudo isso deixava-me estarrecido. Ainda mais ao pensar que deveria pagar prenda e fazer alguma palhaçada caso não adivinhasse quem era meu amigo secreto.

Fiquei tenso a maior parte do tempo, me esquivando das conversas, respondendo monossilabicamente.

Pensava muito, cogitava mil coisas.

Não tinha respostas para muitas perguntas. Sofri nas mãos do primo Alfredo, chato, sarcástico brincalhão que sempre me colocava numa situação constrangedora fazendo  perguntas e lançando dúvidas no ar com mil insinuações. “ nunca vi ele namorando” " será que é?" “ficou vermelho” “ será que o gato comeu a língua dele...  

Incomodava-me aquele falatório. Não conseguia acompanhar o raciocínio deles. Tudo era rápido demais, agitado demais, fútil demais. Flashes das conversas do ambiente passavam pela minha cabeça que fazia mil conjecturas sem saber o que dizer. Estava confuso e atônito Ficava apenas ouvido

"a uva passa é que dá o  sabor"

"Mas tem que por essa disgreta dessa uva passa em tudo"

"Esse presidente vai resolver...vai armar o povo...

"Nós precisamos é de revolução"

"O cruzeiro não vai conseguir. – Ah  vai você vai ver vai ser o campeão"

"Dizem que Jesus nasceu foi em março"

-A vó tá quase boa...

-Isso aí é pavê ou pacumê?

"Daqui uns dias vamos enterrar o velho"

"o cara tem que saber conversar fica parecendo bobo"

E blá blá blá...

Sentia-me exausto sem ter feito nenhum esforço físico. Minhas energias foram sugadas totalmente. Pensava comigo. Ah se as pessoas soubessem como essas reuniões são difíceis para mim  e do turbilhão de ideias que passam pela minha cabeça! A confusão mental, a indecisão, os barulhos tudo aquilo atormentava. 

É muito difícil não saber onde colocar as mãos e nem o que dizer. Buscar em vão o raciocínio e a ordenação das ideias. A resposta certa para aquela pergunta capiciosa, que nunca vem. Na verdade a resposta vem logo mais... quando estiver só em casa ,ela vai aparecer, perfeita, arrebatadora, infalível. Mas ali só conseguia balançar a cabeça balbuciar algumas coisas ininteligíveis e  dar aquele  sorrisinho sem graça.

Era assim que me sentia naquela festa. E ali continuei  ansioso  para que tudo terminasse.

Passei pelo amigo oculto aos trancos e barrancos. Atrapalhei-me todo com a prenda. Quando fui comer tive dificuldades para me portar à mesa, não sabia onde colocar as mãos, todo sem jeito.

Me cansei e fui  procurar um cantinho mais sossegado. Numa pequena saleta me senti melhor.  E ali fiquei.  Parecia até que as pessoas entenderam meu proposito e me deixaram quieto.

Quando la estava vi tia Cota. A irmã de minha avó que havia sofrido AVC no ano anterior, não andava e não conseguia falar. Aproximei-me dela e me senti bem. Abracei-a e desejei feliz natal. Conversei com ela. Ali não havia tanto barulho e aquela senhora apesar de não falar parecia entender o que eu dizia. Eramos dois no canto, distantes da turma dos agitados faladores.  Por motivos diferentes estávamos ali, mas conseguíamos nos entender. Tinha a atenção dela toda voltada para mim. Falei o que sentia e me ouviu atentamente. Ela também estava fora do grupo, deixada ali no canto. Os dois no canto, afastados da turma que faladores. Dois que não  se encaixavam no grupo, não entravam no jogo. Ali encontei o apoio e um olhar terno de alguém que  me compreendia.

-Um feliz e abençoado natal tia Cota. Emocionado e agradecido. Agora sim, estava comemorando o natal de verdade

-Ela não respondeu, nem se moveu, mas uma lágrima de agradecimento desceu de seu olhar. Eu estava ali ao seu lado, dera-lhe atenção e recebera a atenção, calma  serena, profunda e verdadeira,, isso era o que realmente importava.

E  ali no cantinho, com uma  unica e verdadeira amiga aquela acabou sendo  uma noite feliz.

 Neste site,  um pouco da carreira literária de Múcio Ataide, seguindo o caminho das letras para  brindar a vida e descobrir seus encantos e...