segunda-feira, 19 de julho de 2021

RODAS

 A pequena motoneta deslizava suave pela pista do bairro deserto. Estava ali para treinar.  Em alguns momentos fazia movimentos de zig zag o que poderia causar estranhamentos em algumas pessoas, mas ele não se importava. Já se acostumara a  não dar muita atenção aos que os outros pensam. E não existia quase ninguém por ali.  Andava em círculos em curvas fechadas numa rua sem saída. Freava bruscamente e voltava a acelerar.  Ora acelerava muito, ora andava bem devagar, quase parando. Tudo isso fazia parte de um treinamento de equilíbrio e de pilotagem. Um bairro deserto, algumas manobras diferentes garantiriam uma melhor condução no trânsito do dia a dia e compensaria sua dificuldade com tudo o que ser referia ao equilíbrio.

Mas gostava da solidão daquele lugar e do vento batendo em si. Sentia-se vitorioso por estar com sua motoneta, um sonho finalmente realizado. Realizado após um árduo treinamento, uma luta ferrenha contra sua vontade de desistir, e a batalha cruel para a aquisição da carteira de habilitação. Batalha salpicada de gastos e medos. Um rombo na carteira de dinheiro e nas emoções. Mas conseguira.   Agora restava apenas desfrutar e comemorar em cima de sua nave negra as delícias do mundo das duas rodas.

Em algumas tardes sentia-se feliz ao pilotar. Em outras quando não estava tão feliz tentava jogar para fora todo o mal que o atormentava com o vento que vinha. Imaginava o vento levando toda a tristeza que havia em si e a espalhando pelo ar.

Podia comparar a vida a essa pilotagem. O prazer de girar por aí e ver lugares bonitos e gostosas sensações, mas também sentir os perigos e os entraves da estrada. Os dois polos da vida, as duas rodas do existir, os dois caminhos, do bem e do mal. Ora pendemos mais para um lado ora para o outro. Haja equilíbrio.

Acelera, freia, faz uma manobra e outra, fecha a curva olha para um lado e outro, olha no retrovisor. Sente medo e alívio. Sente-se seguro e inseguro.

Observando cada situação fica espantado com a automação de sua direção e por ter conquistava algo em um universo que quando criança nem imaginara visitar.

Por fim resolveu voltar para casa, feliz e realizado.

Agora era um motonetista, ou seria motonista? Vai-se saber! Mas o importante é perceber que a vida muda e que coisas boas  podem acontecer.

Precisamos achar o equilíbrio entre as duas rodas da vida. A Roda do ânimo, e do desânimo. Sempre estaremos pilotando a vida sob essas duas rodas.  

Acelera e vai...

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