A pequena motoneta deslizava suave pela pista do bairro deserto. Estava ali para treinar. Em alguns momentos fazia movimentos de zig zag o que poderia causar estranhamentos em algumas pessoas, mas ele não se importava. Já se acostumara a não dar muita atenção aos que os outros pensam. E não existia quase ninguém por ali. Andava em círculos em curvas fechadas numa rua sem saída. Freava bruscamente e voltava a acelerar. Ora acelerava muito, ora andava bem devagar, quase parando. Tudo isso fazia parte de um treinamento de equilíbrio e de pilotagem. Um bairro deserto, algumas manobras diferentes garantiriam uma melhor condução no trânsito do dia a dia e compensaria sua dificuldade com tudo o que ser referia ao equilíbrio.
Mas gostava da solidão daquele
lugar e do vento batendo em si. Sentia-se vitorioso por estar com sua motoneta,
um sonho finalmente realizado. Realizado após um árduo treinamento, uma luta
ferrenha contra sua vontade de desistir, e a batalha cruel para a aquisição da
carteira de habilitação. Batalha salpicada de gastos e medos. Um rombo na
carteira de dinheiro e nas emoções. Mas conseguira. Agora restava
apenas desfrutar e comemorar em cima de sua nave negra as delícias do mundo das
duas rodas.
Em algumas tardes sentia-se feliz
ao pilotar. Em outras quando não estava tão feliz tentava jogar para fora todo
o mal que o atormentava com o vento que vinha. Imaginava o vento levando toda a
tristeza que havia em si e a espalhando pelo ar.
Podia comparar a vida a essa
pilotagem. O prazer de girar por aí e ver lugares bonitos e gostosas sensações,
mas também sentir os perigos e os entraves da estrada. Os dois polos da vida,
as duas rodas do existir, os dois caminhos, do bem e do mal. Ora pendemos mais
para um lado ora para o outro. Haja equilíbrio.
Acelera, freia, faz uma manobra e
outra, fecha a curva olha para um lado e outro, olha no retrovisor. Sente medo
e alívio. Sente-se seguro e inseguro.
Observando cada situação fica
espantado com a automação de sua direção e por ter conquistava algo em um
universo que quando criança nem imaginara visitar.
Por fim resolveu voltar para casa,
feliz e realizado.
Agora era um motonetista, ou
seria motonista? Vai-se saber! Mas o importante é perceber que a vida muda e
que coisas boas podem acontecer.
Precisamos achar o equilíbrio entre
as duas rodas da vida. A Roda do ânimo, e do desânimo. Sempre estaremos
pilotando a vida sob essas duas rodas.
Acelera e vai...
Nenhum comentário:
Postar um comentário