terça-feira, 4 de agosto de 2020

PASSANDO O RODO

Enquanto lavava a rua a mulher olhava o movimento e se divertia com tudo o que acontecia ao seu redor.

Parava sua atividade para conversar com um ou outro exercitando  seu  esporte preferido  a maledicência.  Ah como gostava de lançar a língua ferina, que zunia como uma chibata agressiva sobre a vida de cada um. Sabia tudo, tinha conhecimento dos menores detalhes do que acontecia na rua. Sabia que a dondoca da casa da esquina estava saindo com um homem casado. Que o rapaz filho da dona zinha tinha finalmente saído do armário. Que Sô Jão  la do final da rua estava namorando  uma moça novinha. Imagina só  o homem tem 76 anos! 

Falava do tempo do frio do calor, da chuva, da  politica do preço do feijão e dos absurdos das cenas da novela de ontem. Enquanto  lavava o passeio passava o rodo em tudo.

Num dado momento parou e ficou indignada quando viu que escorria uma água próxima ao seu portão, água essa que se juntava a outra que usava para lavar seu passeio. Num acesso de raiva olhou agressivamente para a mulher  da casa de cima, que cometia aquela atrocidade de ficar lavando o  passeio. Absurdo!  Gritou indignada para a vizinha. –Fica aí fofocando falando da vida dos outros,  gastando água e molhando a porta da gente.  Xingou e escondeu-se.  Entrou na casa  bravejando:  Fofoqueira sem vergonha.


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