Caminhando por ruas desertas sentia-se bem. Gostava da solidão e do contato direto com a natureza. Estava andando há quase quarenta minutos por avenidas de um bairro ainda não urbanizado da cidade. Tinha à mão seu leitor kindle e entre uma página e outra parava para sentir o verde das pastagens, o canto bonito dos passarinhos e as paisagens que ainda podia ver. Por ali exista um pouco de asfalto, alguns postes de eletricidade, o azul do céu e verde das matas.
Ainda exista ali um pouco de natureza. O pouco que sobrou e que ainda respirava depois da agressão das
máquinas, que um dia, com notável crueldade invadiram o local, profanando a
sacralidade do lugar, e foram abrindo picadas, espantando animais, recolhendo o verde e salpicando o piche sobre a terra vermelha do chão.
Os pássaros ainda insistiam em voar e cantar por ali. Talvez
por pouco tempo, pois uma selva de concreto preparava-se para erguer-se
imponente surrupiando deles o seu
ambiente, seus ninhos, a beleza dos cantos e os movimentos.
Animais que ali viviam já migraram para outras paragens, do mesmo modo
que migraram para ali, quando outro local foi destruído. E assim vão eles para
lá e para cá tentando sobreviver enquanto o progresso vai lhes sugando a vida e reduzindo o espaço até nada
mais sobrar.
Mas não tem outro jeito pensou o leitor. É o progresso, é a
evolução, não podemos fugir disso, talvez quem saiba um dia aprendamos a
evoluir sem destruir tanto, a usufruir do melhor dos dois lados, da natureza e do progresso. Quem sabe um dia! Por enquanto
não.
O que resta é aproveitar um pouco dessa solidão e sossego e
ler tranquilamente enquanto ainda se pode.
Por enquanto aqui estamos. Incrível como tudo na vida é apenas um por enquanto.
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