Na época em que eu nasci o meu pai ilustríssimo Sr. Ataide Ferreira dos Santos tinha o costume de ler todos os dias num jornal matinal a coluna de um famoso jornalista chamado Múcio Athayde. O renomado homem de imprensa tornou-se até deputado e fez algumas peripécias não muito honestas por aí, mas sobre esse assunto prefiro não entrar em detalhes para preservar o nome do nosso nome. Quem quiser que pergunte ao pai google sobre o parlamentar que tinha o apelido de: O homem do chapéu, mas enfim, quando nasci papito resolveu colocar esse nome em mim que homenageava ao jornalista e a ele mesmo . E assim passei a assinar a alcunha de Múcio Ataide Ferreira. Um nome raro, outro nome raro e um sobrenome comum. Nome, pré-nome, antenome nem sei qual é qual. Esse sou eu.
Um dia tive a ideia de pesquisar no google sobre o significado do meu nome pensando que seria algo bonito, nobre, mas a mãe etimologia premiou-me apenas com um seco e discreto MUDO. É esse o significado do meu nome. Eu sou o MUDO. Talvez por isso seja calado. Quando me tornei cônscio do significado, nada disse, fiquei múcio.
E quando um dia uma pessoa elogiou-o dizendo tratar-se de um nome bonito, forte, raro e marcante, eu confesso que fiquei eMUCIOnado.
Acho que existem poucos múcios no mundo, mas já participei de uma comunidade no antigo Orkut onde só existiam múcios e haviam múcias também.
Porém essa estrada é de pedra e poeira. Não foi fácil chegar até aqui.
Desde a mais tenra idade já comecei a perceber que alguns problemas me acompanhariam vida a fora. Brincadeiras, gozações, troca de letras e a necessidade de ficar repetindo o tempo todo e até soletrando para que as pessoas pudessem entender.
E como me chamam? Como eles me chamam? Ah tenho vários nomes. Eu sou o murso, o musgo, Hugo, Hudson, Núcio, mussum (talvez seja atrapalhado) mussarela, “mursarela”, “murcego”, “massum”, músculo, musculoso (estou longe disso), musgo, mugo ETC, ETC, e ETC e o mais comum Lúcio. A esse último adotei como meu apelido oficial.
Já perdi a conta de quantas vezes tive que soletrar ou então dizer: é igual Lúcio só que com M no inicio.
Quando estou desanimado, e em lugares em que não preciso apresentar documento eu digo logo Lúcio (o apelido adotado) e se descobrirem a tramoia digo que entenderam errado. Outras vezes falo diretamente o segundo nome Ataide porque esse não traz tanta dúvida.
Uma vez numa festa ouvi meu nome ser pronunciado e fiquei curioso com o que diziam. O que eu não sabia era que estava sendo servida na recepção aquela sobremesa feita de limão ou maracujá, e por questões fonéticas a confusão se deu quando ouvi uma pessoa perguntando à outra: - Você comeu musse? – Não. - Então coma. E outras conversas relacionadas... Musse é uma delícia... adoro musse... musse tá muito gostoso... musse com sabor de limão... Demorei a perceber do que se tratava. Foi muito confusa essa situação.
Já me perguntaram se eu sou descendente de árabes, porque dito rapidamente os dois nomes formam a palavra Mustaíd
Alguns produtos têm nomes parecidos ao meu. Temos o inocente leite mucil, o empolado cereal mucilon, e o tendencioso e imperativo medicamento metamucil. Isso arrepia-me.
Certa vez quis mudar oficialmente para Lúcio, mas essa mudança é muito complicada porque precisa de um processo, a concessão judicial, toda uma burocracia para se alterar em todos os documentos e cadastros que tenho por aí... E fiquei com medo de me arrepender. Então desanimei.
Um dia uma pessoa me perguntou: Múcio como é seu nome de verdade? Eu falei é Múcio mesmo. Ela disse: -Você está brincando, está fazendo hora com a minha cara, isso não é nome só pode ser apelido.
Teve alguém que começou a rir sem parar dizendo: Hahaha que nome mais engraçado!
Outros não conseguem decorar por mais que eu repita. E acho estranho porque a diferença está apenas em uma letra.
Quando eu mesmo preencho alguma ficha ou cadastro, observo a pessoa aproximando a ficha dos olhos para ler bem de perto e ter a certeza de que é aquilo mesmo. E conferindo lá no chamegão. E observo até um risinho disfarçado.
Pelo telefone então é o caos. Vira uma batalha faraônica tentar fazê-los entender. Parece que as pessoas não aceitam que seja um pouco diferente e querem ter a certeza de que não podem tornar o nome comum. Insistem em muda-lo e adequá-lo ao que já estão acostumados
Numa bela tarde tentava reservar uma diária de um hotel e então a odisseia começou:
-Alô
-Boa tarde. Eu gostaria de reservar um apartamento individual, uma diária para o próximo sábado, por favor.
- Sim, temos apenas o standard, os outros já estão reservados.
-Pode ser.
-E qual é o nome?
-Múcio Ataide Ferreira
-Como é que é ?
-Múcio
-Lúcio?
-Não, Múcio.
-Não entendi. Pode repetir por favor?
“Arc”! - É Múcio
-Nossa é um nome diferente!
-É sim...
-Repete mais uma vez.
-Múcio.
-Ah está certo Sr. agora entendi vou soletrar: M U C H O ?
-Cancele a reserva por favor.
É desse jeito. E vamos pela vida a fora.
Apesar de tudo gosto do meu nome. Ele me dá histórias para contar.
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