sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

 PAREDE FRIA 

Os corredores eram longos e frios e a solidão parecia rondar por cada canto, apesar do movimento até intenso. Talvez porque não fosse um movimento alegre, mas sim o movimento de fuga. A fuga do mal da dor, ou das dores...

Em todos os olhares por ali, via-se apenas a procura de uma paz.

Ao final do corredor o quarto mais triste de todos. 

O homem solitário e sem familia, não tinha ninguem para lhe dar carinho e cuidados. 

Sabia que faltava pouco para o fim do sofrimento. E a esse fim ninguem poderia evitar. 

Lamentava apenas  ter chegado àquele ponto  e constatar que muito pouco valera seus esforços, seu amor e sua  dedicação. 

Fracassou em construir algo que agora o sustentasse e nada mais poderia fazer. Fracassou nos negócios, fracassou na família, fracassou na construção de uma imagem boa de si e de valores que o elevassem e o fizessem se sentir em paz consigo. 

Agora ali estava no mais terrível abandono.

Foi vencido pelo tempo, pelo despreso e pela desesperança. 

Consolava-se um pouco ao  virar-se para o canto da parede fria  do quarto daquele triste hospital e chorar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

 Neste site,  um pouco da carreira literária de Múcio Ataide, seguindo o caminho das letras para  brindar a vida e descobrir seus encantos e...