terça-feira, 9 de março de 2021

EM CASA

Eu sou introvertido e gosto de ficar em casa quieto e  tranquilo. Incomoda-me a futilidade do papo de certas pessoas que toma nosso tempo com conversas prolixas sem nenhum conteúdo.

Sinto por  muitas vezes a bateria descarregada e a vontade me recolher para refazer minhas forças.

Pensando sobre esse aspecto deveria eu adorar a pandemia, afinal de contas ela marca a nossa vez. É o momento em que o jeito de ser introvertido ganha espaço. O mundo agora é introvertido. As pessoas foram de certa forma obrigadas a assumir o nosso jeito de ser. Estão agora em casa, mais quietas tendo que conviver com coisas que para nós é comum. Acredito que algumas estão se descabelando porque não conseguem viver sem os agitos, as festas, as rodas de conversas e os risos por aí.

Quem sabe se assim vão aprender a nos dar mais valor. A entenderem melhor o nosso jeito de ser.

No mês de março do ano passado, meu patrão decidiu que ficaríamos parados durante um tempo. Em casa e apenas em casa.  Por volta de um mês o escritório onde trabalho não funcionou.

Então eis que alegria poder ficar em casa lendo, escrevendo, fazendo as coisas que gosto sem compromisso. Foi muito bom de início.

 Mas ali a situação era diferente. Eu estava sendo obrigado a ser introvertido. O meu modo de agir que para mim seria natural tornou-se artificial e diminuiu aquela sensação gostosa do início. Tornou-se sufocante. Acho que senti um pouco do que um extrovertido sente quando é obrigado a se recolher. Eu sou arredio ao convívio social, mas gostava de vê-lo acontecendo à minha volta. Ouvir conversas e até ver um pouco de movimento. Na pandemia estava eu privado disso. E percebi que o isolamento o tempo todo não é bom. E que o isolamento cercado de medos e inseguranças quanto ao futuro é algo sufocante.

Gostei de estar isolado em alguns momentos, mas em outros senti-me entediado e nervoso. Deu-me sensação de sufoco, de estar um pouco abandonado e nesse tempo pude confirmar a máxima do filosofo japonês Yoritomo Tashi: É na solidão que os pensamentos se transformam tornando-se irreconhecíveis.

Mas é aquela velha historia quando não se pode é que se quer. Apesar do meu jeito introvertido, me sinto as vezes um pouco sufocado pelo fechamento que a pandemia traz. Não querer sair e socializar é uma coisa, não poder fazer isso é outra diferente. Parece que estar condicionado a um determinado comportamento nos faz sentir mal. Como se estivéssemos nas grades de uma prisão.  São contradições que moram dentro de nós. Gostar de viver na solidão e nesse momento sentir-se um pouco abandonado por viver nela.

A pandemia ensina-me como são contraditórios as nossas emoções e os nossos valores. Queremos o que não temos. E não damos valor ao que temos. 

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