A BRIGA

 A briga aconteceu entre os dois Joões. O joão do café (que bebe café o dia inteiro) e o João Crente (evangélico que faz pregações na praça com a Bíblia na mão). 

O joão do café, aquele que ingere litros e mais litros de café por dia e que é o maior perguntador que eu conheço, aquele que ser saber sobre todos os assuntos, é muito nervoso. Tem alguns problemas mentais. Faz tratamento psiquiátrico, toma diversos calmante e tem um humor que varia muito. Tem dias que entra aqui no escritório, vai até a cozinha bebe o café e não cumprimenta ninguém. Noutros dias está alegre, falante e perguntante. Sempre pergunta: Quem morreu? Cruzeiro ganhou?  Pergunta sobre futebol, sobre fatos acontecidos na cidade, enfim sobre tudo e mais um pouco. Noutros dias se irrita do nada com as pessoas. E xinga, xinga Deus e o mundo. Ameaça até agredir a alguns.

Num belo dia estava ali tomando seu cafezinho quando o João crente chegou. Não me lembro bem o que foi dito, mas vi que o João do café começou a ficar vermelho e se agitou imediatamente. Daí para frente foi aquele festival de palavrões gritos e insultos

- Malandro, vagabundo, não trabalha. Sem vergonha. Ladrão. Você rouba -  Estes e muitos outros carinhos foram direcionados ao João crente, que ficava quietinho  no seu canto.

O João crente para evitar mais confusão levantou-se e foi embora.

No prazo de meia hora voltaram os dois e estavam bem calmos.

Então eu maliciosamente e para provocar um pouco  apontei para o João Crente e  perguntei para o João do café:

-Jõao o que você acha desse outro João aqui? O bebedor de café que há pouco tempo estava furioso com o amigo  falou de forma sincera e serena:

-Esse é um homem muito  bão!

TRÂNSITO

 Começou a viagem numa linda manhã . O sol começava a despontar, ainda não tinha muito calor em seus pouco raios, mas já brindava a manhã com a magia do seu lume .  Considerava  sempre um grande prazer ver o sol nascer na estrada. Indo para algum lugar, viver alguma nova experiência. 

 Abriu um pouco o vidro do carro e pode sentir uma brisa gostosa soprando enquanto aumentava o volume do som para ouvir a maravilhosa seleção que fizera para aquela viagem. A super play list que fazia voar pelo ar notas de alegria e também de tristeza.

No decorrer do trajeto de cento e poucos quilômetros, as emoções se alternavam. Sentia-se feliz olhando a bela paisagem das margens da estrada e o intenso movimento, que   sendo artificial contrastava com a natureza, mas causava também uma certa alegria. 

De tempos em tempos uma ideia ruim lhe vinha. Talvez o resquício da tempestade que caíra sobre sua vida em tempos recentes.  E cada ideia trazia um conjunto de conexões e possiblidades. Se pensava algo aqui, algo aconteceria lá e no caminho de um ponto a outro milhares de pedras que poderiam fazê-lo capotar.

 Uma dúvida, tornava-se rapidamente uma certeza. As possibilidades insistiam em não permanecer na estrada das possibilidase, elas cruzavam faixas ultrapassavam, fazia manobras perigosas... As ideias são velozes, não respeitam limites nem radares. Nada. Pagaria mil pedágios naquela estrada. Naquela viagem que começara com a  alegria do novo dia, invadida por nuvens escuras e densas que iam e vinham sob aquela estrada.  

Viajva por estradas do mundo e por outras estradas dentro de mim. A de dentro tinha curvas perigosíssimas. Era muito arriscado transitar por ela.  

O caminho era pedregoso em alguns trechos planos em outros, buracos, pedágios, ultrapassagens perigosas. Tudo de ajuntava naquela estrada. 

Mas era preciso transitos. Tudo é  transitar.

 

PRESSA

 Pressa é uma mão

Apertando a garganta

Algo que vem do nada

E a nossa paz janta

Pressa é sufoco

É corda bem atada

Forca no pescoço

Estar entre as paredes de um poço

Não nos serve de nada

 

MEDO E DESEJO

 Pode mudar

vida muda

alegria agora

tristeza daqui a pouco

contornos do existir

montanha russa

aprenda a andar nela

pegue seu ritmo e vá

esquilibrando nas curvas

nos loops

e na sensação de prazer

A vida dá 

o medo e o desejo 

tapa e beijo

calma e folia 

o sonho e a alegria

tudo misturado 

neste interminável sobe e desce

Mas hoje é sexta,

Ficar triste? Esquece!

ABRAÇO DA POESIA

 Não existe regras

só o encontro da poesia

os abraços dela com a vida

só a libertação

vale a pena viver assim

aberto ao que é bom 

sorrindo para as intemperies

entendendo cada passo dado. 

Todos os caminhos convergem para o bem 

para a aventura 

e o regozijo tam´bm 

IMAGEM

 Imagem 

imã

imaginação

imagina a ação

imagem é tudo 

um clique 

um mundo 

fotografia do momento

do fluir de dentro

dos sentimentos

imagem

fantasia

status quo. 

aqui, agora, sentiu viveu...

imagem é poder. 

imagem age

Imagine

imaginômetro, 

espectros que agem 

imagem...

AMANHECENDO

 

Amanhecer menino

Amanhecer brincante

Rodando a roda da ilusão

Girando a hélice dos sonhos

Amanhecer mato, galo, passarinho

Florestas e gritos

Grilos e  sons do caminho

Estradinha, boi, boiada

Poeira do tempo

Na longa estrada.

Amanhecer antigo

Outras eras outros tempos

Amanhecer trago

Ou levado pelos ventos.

Amanhecendo da noite escura

Amanhecendo das procuras

Refazer o caminho perdido

Em cada uivo, cada grito

Cada rugir, cada cena

Amanhecer é ouro

Amanhecer vale a pena

O QUE TEM A SEXTA?

 O que tem a sexta-feira

De tão diferente?

Pode parecer besteira

Mas a gente fica mais contente

 

Se você  pensar bem

É um dia como outro qualquer

Se pergunta o homem e a mullher

O que de especial a sexta tem?

 

Traz alegria, paz,  relaxamento

Paras as dores  é unguento

Esperar por ela é nossa sina

 

Todos gostam desse dia

Tem um encanto e magia

Contra os males da rotina

 

 

O LADRÃO E ASSASSINO

 Ficou animado quando ouviu o barulho do helicóptero. Correu até a rua para vê-lo melhor. Morava naquela pequena cidade e nunca tinha visto um daqueles barulhentos bichos voadores. E voava bem baixinho. Observou que faltava uma porta e que no lugar dela tinha um homem com uma arma na mão.

Mas logo ouviu o vizinho comentando:

-É helicóptero da Polícia. Dizem que estão fazendo batida para prender ladrões na cidade. Ladrões e assassinos. Não vai sobrar um ladrão hoje por aqui. Quem rouba tem que ser preso mesmo. E ficar muitos anos trancafiado. A bandidada vai ver o sol nascer quadrado.

Ficou apavorado. Escondeu-se no quintal debaixo do pé de abacate. Ali ficou tremendo, sabendo que a qualquer momento seria descoberto e talvez passasse o resto de sua vida na cadeia.

Não queria roubar, nem matar, mas não resistiu, precisava daquilo, tinha necessidade. Roubou para satisfazer seuvício, seu doce vício, que tanto prazer lhe proporcionava . E teve que matar para afastar quem estava em  seu caminho.

Pobre Ricardinho, como poderia suportar os efeitos do medo em seu pequeno corpinho? Com apenas cinco anos e já era um bandido  procurado.

Jurou que se escapasse daquela, nunca mais roubaria o pudim dentro do armário da cozinha. E nunca mais mataria formiga alguma. 

ÂNIMO.

 Quero ânimo e alegria

E um quê de diversão

Conversas com magia

Em tom lúdico de emoção

 

Quero muita ação e luta

Quero fazer a história

Nem é uma dura labuta

É apenas fazer minha hora

 

Que eu  seja e fale alegria

E que eu espalhe todo dia

A todos que por aí encontrar

 

Como plantando em  um  jardim

Flores muitas , beleza sem fim

Por todo o canto por onde andar.

INDÔMITO

 o velho sonho insiste

insiste em residir aqui 

apesar de todos os desencantos

ainda acha de por  cá florir

tal qual um jardim que revive

com gotas, so gotas nada mais

velhas quimeras vão renascendo

raízes o solo árido rompendo 

sonho, um ser  indômito e audaz 

DE ANTES

Saudade das viagens

de andar por aí

ah saudade que invade

de coisas que perdi

Festas, rodeios, shows baieles

cinemas, lojas, teatros

prazeres do antes do caos

de antes do sopro dos ventos maus

antes das ondas agitarem o rato. 

DIA DE FOLGA 

uma manhã de folga

um tempo só pra mim

um momento feliz

gosto de momentos assim

não deixarei de fazer

aquilo que preciso for

mas fico um tempinho a mais

debaixo do meu cobertor

um dia tranquilo vivo

uma cadeira um livro 

pequenos prazeres do viver

e assim a vida acontece

entre os sobes e desce

Hoje é dia de folga e prazer 

  

OBRA DA NATUREZA

Natureza faz poesia

Nas cores do pé de ipê

Branco roxo amarelo
Onde beleza se vê

Faz aldravia nos gorjeios
E nas asas soltas no ar
Em mágicos e doces trinados
Que tanto sabem encantar

Faz Trova na brisa suave
Que refresca o tempo quente
Que traz refrigério e faz arejar
Até os  tormentos da mente

Rimas na terra branca ou vermelha
Que aos anseios do lavrador acode
Nina em um berço mágico
Lá onde  a semente dorme

Repente na areia quente
Canta opera em tom de soprano
Ária no balançar nas ondas
Para Vossa Majestade o oceano

Poema também faz
No desabrochar da flor
Na pétala de fino veludo
De delicado trato e odor

Faz declamações  no vento
E até nas partículas do ar
Num mundo tão invisível
Que nem se pode notar

Escreve a crônica  do verde
Nos campos, copas e selvas
Da  imponente sequoia
Ou da tão humilde relva


Em capítulos nos traz
A novela do amadurecer
Trama da Semente flor e fruto
Revelando Alimento beleza prazer.

Também guarda escondida
Muita vida dentro do chão
Lirismo tem nas raízes
Em tudo há ramificação

Conta o conto do João congo
Em seu  emaranhado esquema
do barracão do joao de barro
Ou da cantar da siriema

Cordel da lagarta rastejante
Transformação tão perfeita
Passo a passo na metamorfose
Que um dia a faz borboleta.

Pirilampos coloridos
Melodia  da noite e da mata
Rio manso ou agitado
no continuo derramar das águas

Na infinitude do espaço
Além dos limites da razão
Sua pena risca os céus
Poesia na imensidão

Na lua clara claro farol
Que inspira o poeta e cantador
Canção cantada nas noites
Em notas de puro amor

Agua terra, fogo ar,  partículas
Espaço. Universo, vida além da razão
Sua pena vai passando e bordando
Em tudo deixando poesia e louvação.

Literata das maravilhas. A ela todas as odes
Senhora de tão magníficas epopeias
Leio e sinto em tudo com certeza
A maravilhosa obra da natureza.

MÚCIO ATAIDE