Natal
Luz
Sino
Esperança
Jesus
Menino
Natal
Luz
Sino
Esperança
Jesus
Menino
Depois da ceia, do amigo oculto e todo aquele ritual fomos deitar.
Eu não conseguia dormir, estava
passando mal, havia como sempre comido e
bebido demais, sentia o estomago queimar, então fui até a cozinha para pegar um
sal de frutas e ao passar pela sala vi que alguma coisa brilhava na árvore bem
atrás da estrela que ficava no topo. Era uma árvore pequena, tinha poucos
enfeites e não era iluminada. Fiquei curioso com aquilo achando que houvesse
algo mágico por ali. A estrela brilhando poderia ser um sinal do além. Fui em
direção à arvore e vi que haviam dois olhos brilhantes atrás dela e estavam
olhando para mim. Quando cheguei mais
perto percebi que era um vaga-lume que se posicionou exatamente atrás da estela
iluminando-a. Ri de mim mesmo por pensar
bobagens.
Voltei para cama e ainda não
consegui dormir refletindo sobre aquilo.
Voltei até lá e o vagalume agora
brilhava iluminando o rosto do menino Jesus no presépio.
Não sei se foi algum sinal do
além, mas aquilo me fez refletir sobre o sentido real do natal e também nas
maravilhas da natureza. De onde vem a luz fosforescente que brilha nos olhos
daquele bichinho? Quem acendeu aquela luz? E por que ela rondava os símbolos do
natal? Queria me mostrar algo ao
iluminar a estrela e o Jesus menino? Estava eu me apagando para o significado do
natal? Deveria aprender a olhar para o mundo e sentir a beleza existente em
cada coisa? O que tudo aquilo significava? Ou tudo não passava de coincidências?
E nos pensamentos acelerados da
madrugada insone todas as conexões eram possíveis.
Voltei até a sala para observar
um pouco mais e o vaga lume pousava agora em minha foto, iluminando meu rosto e
meu sorriso.
Era uma luz que se acendia na madrugada. A luz
mágica dos mistérios desse universo sem limites e sem fronteiras. A luz da
reflexão, da renovação, do indagar sobre a amplitude desse mundo sem fim.
Os olhos brilhantes que fizeram ver muito
além. A luz que se acendia em meu interior e me acordava para muitas coisas adormecidas
dentro de mim.
Senti-me renovado e com alguns
novos propósitos.
A estrela do natal, o rosto
sereno na imagem do menino, e o meu sorriso feliz iluminados pelos olhos
brilhantes, mágicos que
testemunhavam a perfeição da natureza,
me fizeram ver muito além.
Nascia
algo novo em mim naquela noite de luz.
E os dois lindos olhos
brilhantes continuavam me olhando...
Meu pai chegou de tardinha trazendo uma garrafa de guaraná alterosa e colocou-a em cima do guarda-comidas. La no nosso beco do canudo. Eu me animei todo, mas ele disse: - O guaraná é para amanhã, para levar para a festa de conceição do Pará. A garrafa ficou ali em cima do armário, pois não tínhamos geladeira naquela época. Então fiquei olhando o guaraná e imaginando saboreá-lo. Nos meus tempos de menino tomar refrigerante era algo raro de acontecer.
E a rotina do dia oito de
dezembro dia da festa no santuário de Nossa Senhora da Conceição na cidade
vizinha de Conceição do Pará todo ano se repetia.
Levantávamos cedo numa animação
só! Vestíamos nossa roupinha de missa, abríamos o cofrinho com as moedas juntadas
durante todo o ano para serem gastas na festa e estávamos prontos para a grande aventura.
Minha mãe preparava uns sanduiches de carne
com molho de cebola para levar, lá era tudo muito caro, então levávamos nosso próprio
lanche, guardando o pouco dinheiro para comprar algumas coisinhas de lembrança.
Íamos para a praça da rodoviária,
e ficávamos esperando o ônibus “encher
de gente” e nos conduzir até o local dos
festejos. Não era uma espera ansiosa,
pois tudo era diversão.
Saíamos pela estrada de chão com
chuva ou poeira e ver a paisagem com a cabeça para fora da janela do ônibus era uma diversão a mais . Que
alegria! Mamãe fechava os olhos quando passávamos pela pontinha da usina, ela tinha
medo de ver a água correndo naquela valeta pequena.
Mamãe sempre nos contava historias
acontecidas por ali, lembrando sua meninice como eu faço agora nesta roda das lembranças,
que assim como aquelas rodas da usina, nunca
para de girar.
Chegávamos ao local da festa, mas
mamãe logo ditava as regras: primeiro pegar a fila para entrar na igreja,
beijar a imagem da santa, dar esmola, depois assistir à missa e só então andar pelas barracas. Ficávamos desanimados porque queríamos
sair andando, mas tínhamos que obedecer.
E assim tudo acontecia. Depois das
funções religiosos saíamos serpenteando pela multidão encantos com tudo.
Não podia faltar o retrato em
negativo que só poderia ser visualizado num pequeno monóculo, a foto levava um
bom tempo para ser revelada, tirada de manhã
e entregue à tarde. Eu certa vez tirei uma foto vestido de cowboy montado num pônei.
Papai comprava alguns brinquedinhos
para a gente, coisa barata. Eu sempre pedia um aviãozinho.
Chupávamos um ou outro picolé.
Mamãe se demorava um pouco nas barracas e ficávamos
nervosos, a perdíamos de vista e tínhamos
que voltar. Ela parava muito para olhar
mercadorias e nós queríamos movimento. Então a censurávamos.
Que bobagem! Para que pressa? Não era justo nossas reprimendas, pois ela também
tinha o direito de ver as coisas e fazer
suas compras. Hoje vejo como a pressa
era uma besteira. Se soubesse que passaria tão rápido não teria pressa alguma. Olharíamos
tudo devagar e saboreando bastante o clima agradável daquelas festas. Mamãe nas paradas acabava comprando somente utensílios para a casa e coisinhas para nós , nunca nada para ela.
Depois íamos a um lugar mais reservado saborear os sanduiches e tomar o almejado guaraná que continuava quente, mas a gente nem ligava.
Tudo tinha sabor de encontro de festa e
vida eterna. Da efemeridade nada sabíamos.
Dificuldade de água e banheiro,
aperto nos corredores, roubos, vendedores trapaceiros, eram entre outras coisas
complicadas por lá.
Então papai falava, já está bom,
vamos embora. Sempre na hora do regresso o velho gostava de comprar abacaxi para trazer. E o
cheiro dessa fruta sempre desperta em mim o sabor delicioso dessas manhãs de 8 de
dezembro. Falou em abacaxi me lembro da festa
Andávamos um pouco mais e voltávamos enfrentando o engarrafamento da
estrada que também não era estressante. Naquela época festa era festa de verdade
do começo ao fim.
Era tudo gostoso, era tudo
divertido, não tinha um resquício sequer de tristeza.
Mas veio a mão do tempo e fez o
que ela sempre faz, se apodera dos melhores pedaços de vida e os esmaga um a
um.
Se fechar os olhos e deixar a
imaginar voar posso ouvir ainda o sino chamando para a missa, ver a fila que
serpenteava em volta da igreja, o zumzumzum das rezas, o barulho das moedas
caindo no cofre das esmolas, as músicas em homenagem a Nossa Senhora, os cheiros gostosos vindos das
barracas de comidas, gritos dos vendedores abordando os clientes, as musicas nas barracas de fita cassete, posso
me sentir esbarrando nas pessoas nos corredores apertados... Enfim posso sentir todos os sons
e sabores daquela época tão feliz!
E tudo passou tão rápido parece que foi ontem
mesmo. Se pudesse entraria numa máquina do tempo e todo dia 08 de dezembro voltaria s ser de novo aquele menino, tê-los de novo aqui e viver aqueles
momentos que à época eram tão comuns e agora no espelho colorido das lembranças
são tão especiais. E essa frase continua aqui sempre que a lembrança vem: tudo
passou tão depressa!
Quero de novo o sabor de vida que
existia dentro daquela garrafa de guaraná,
quente e delicioso!
E então é de novo natal
e a vida com laços e e enfeites
carregada de planos e deleites
casa ornada da frente ao quintal
os mesmos sonhos do natal passado
os infalíveis propósitos e planos
que se perderam no decorrer do
ano
agora são revalidados
que não seja uma alegoria
que seja verdadeira alegria
amor entrelaçado à lida
uma explosão um renascer
um novo modo de viver
mudança real de vida
Eu tenho um amigo poeta muito talentoso que se chama Afonso Castro e reside na cidade de Maravilhas MG. Ele criou um personagens para usar em suas trovas e através dele dizer muitas coisas O personagem é o Boilero (um boi muito especial) . Essas trovas abaixo explicam bem a questão
BOILERO VI
Já nasceu fadado ao escuro,
filho da tal vaca louca.
Boi de carroça, pé duro,
na vida pândega pouca.
BOILERO VII
"O Brasil por mim se ufana,
não tem nada de sinistro.
Eu vivo na terra plana",
são falas do Boi Ministro.
PS.: Boto na boca dos bois as falas que acredito e quero (risos)...
Afonso de Castro Gonçalves.
Maravilhas das Gerais.
Eu então resolvi fazer uma brincadeira com ele, na verdade uma homenagem na forma de uma crônica bem satírica onde o mundo bovino é o assunto principal.
O texto é uma brincadeira, uma sátira feito de forma descontraída e despreocupada e eu nem o corrigi, apenas fiz algumas aparas daqui e dali.
Parabens Afonso pelos seus belos versos. Muito sucesso para você.
Vejam esta linda história de amor:
A história de amor
começou numa exposição agropecuária.
A vaca olhou para o boi
e começou a paquerá-lo. O boi retribuiu pois era muito boleiro. Ela
também era uma vaca boleira, e poderia ser chamada de vaca leira, se algum poeta lá de Minas tivesse
criado essa expressão. Lembrou-se
daquela frase que usava nos tempos de menina: A vaca mica o boi e o boi não dá
leite. Foi amor ao primeiro balde.. O valente touro coçou o chifre no chão e
resolveu abordá-la. Chegou perto dela
com o lero de boi apaixonado. A vaca
logo o classificou de boilero, um boi
cheio de lero. E assim começou aquele amor bovino, que apesar do perigo dos
chifres (amor de bovinos sempre esbarra no chifre) prometia ser amor para toda
a vida. Aquela relação prometia dar muito
leite.
Saíram pela night e
foram dançar um bolero de rosto quase
colado, só não foi colado porque o chifre atrapalhou.
Depois foram até um
lugar distante onde puderam observar as estrelas e ver a via láctea.
Ele contou muitas
histórias, contou até aquela para o boi dormir. E assim foram se conhecendo
pelos pastos da vida.
Boilero era primo do
boi soberano que pertencia ao grande cantor e compositor Tião Carreiro. Fora
tangido do Mato Grosso pelas estradas no sertão em noites e dias de caminhada.
A vaquita como era chamada pelos intimos era premiada em exposições e até um
pouco esnobe A vaca era sobrinha neta do
boi bandido famoso pelos rodeios do brasil e parente distante daquela pobre
vaquinha que ia para o matadouro tão magra que tinha os ossos furando o couro.
Casaram-se e foram
passar a lua de mel no Curral Resort em Uberaba. Foi lindo.
Depois de algum tempo se engajaram na luta
política e cantavam a música vida de gado, vaca profana como sinal de protesto.
Protestaram também contra
o poderio econômico representado pelo touro de ouro na bolsa de valores de são
Paulo.
Eram livres pensadores,
um pouco anarquistas, não quiseram se
filiar ao Jersismo nem ao Nelorismo.
Reclamaram da qualidade
do pasto, do milho que lhes era oferecido. Fizeram protesto na porta de
matadouros e frigoríficos contra a matança de sua espécie. E apoiaram as ações
e invasões do movimento social chamado BSC boi sem curral.
No natal montavam um
lindo presépio, e no presépio deles não havia ovelhas nem pastores, somente
bois e vacas.
Um dia conheceram a
obra de um poeta mineiro que usava muito um boi em suas trovas e ficaram
extremamente felizes. Aquele era um poeta talentosíssimo tinha muito
criatividade, e não ficava só boiando
nas trovas, mas fazia tudo com muito capricho. O boi ficou orgulhoso ao ver seu
nome sendo usado em lindos versos poéticos e de protestos. Era o poeta das maravilhas.
Tiveram apenas um
filhinho, e deram a eles o nome de bezeleiro. Na hora de fazê-lo dormir
evitavam cantar a música boi da cara preta, porque a achavam que a canção era
racista, mas cantavam o couro de boi e também aquela: Eu sou aquele boizinho que nasceu no mês de
maio...
De repente o boilero
ficou vaidoso. Estava se considerando um machão reprodutor e mudou todo o seu
comportamento. Começou a sair por aí...
A vaca gostava de bater
longos papos com o retireiro que vinha todas as manhãs. Ela desabafava com ele,
falava do boleiro e que andava desconfiada que seu parceiro estava pulando a cerca e indo até a malhada que ficava na outra
fazenda. E a fofoca se estendia por algumas horas. A vaca chorava e dizia que não merecia o
chifre. O retireiro dizia que ela tinha
que se cuidar mais, talvez colocar um silicone porque estava com a teta muito
caída. A vaca disse que isso era culpa do próprio retireiro e do seu trabalho
de todas as manhãs e que infelizmente aquela era a sua sina. O
retireiro ficou triste com a depressão da amiga e disse que seu leite estava
secando por causa disso, dali a pouco ia dar Leite ninho. Ela chorava e ficava ruminando aquela ideia de que se ele já estivesse apaixonado por outra
não adiantava chorar sobre o leite derramado.
O boi jurava que era
mentira e que poderia ser mochado se isso fosse verdade. Podia até ter seus olhos
arrancados e usados como tentos numa partida de truco.
Ela boilou uma forma de
pegá-lo em flagrante com o chifre na massa. Então seguiu as patas pelo pasto a fora e chegou ao local da
traição. Fez um escândalo quando
encontrou o harem. Ali estava o boileiro com a malhada, a mimosa, a brabuleta, a mocha, que viera lá do sítio do picapau
amarelo e outras . Até a estrela que
ficou famosa porque foi tema de uma música e que pertencia ao poeta Patativa do
Assaré ali estava. E fubá nem desconfiava. Uma surubaca só.
A vaca rodou a anca,
agitou a fraldinha, arrepiou a chã de fora, bufou de raiva e saiu acém por hora. Parecia até que
estava com a doença da vaca louca. Foi para cima das outras e fez o maior escândalo.
-Suas vacas! Eu vou
mostrar para vocês – A vacada estourou e começou a saltar pelo pasto à fora.
Olhou para boleiro e
disse;
-Seu sem vergonha. Eu
sabia que estava me pondo chifre.
O boi amuado ficou no
cantinho com medo. Não soltou nenhum mujidinho.
Depois de uma boa
bronca os dois voltaram para cá.
A principio a vaca
pensou em abandonar de vez o parceiro. Manda-lo ir comer capim. Mas ruminou
melhor as possiblidades e resolver
varrer a sujeira para baixo do casco.
Não se falavam mais,
nem um méee de bom dia. Nada. E ficaram alguns dias calados, parecia até que
estavam brincando daquela brincadeira da vaca amarela pulou a janela....
Passaram a dormir em
currais separados
Aquele episódio quase
terminou em divórcio. Mas enfim se reconciliaram e o boi prometeu se comportar.
A vida seguiu entre
altos baixos.
Depois de algum tempo
levaram o bezeleiro embora e os dois ficaram ruminando aquela tristeza..
Envelheceram juntos e um
dia foram conduzidos a um matadouro
onde boilero se despediu chorando de sua amada.
Reviveram sua vida quando os dois
ficavam de lero um com outro, e depois quando dançaram boleros. Os
protestos contra o boi da bolsa ao som de vida de gado. Às vezes em que ele
recitou para ela as belas trovas do poeta das maravilhas. Reviveram tudo no
momento do fim. E se foram os dois juntos, vaca cadáver e boi defunto.
A vida é breve e como
dizia o grande mestre espiritual ZEBUDA: não fique ruminando os problemas.
Existe a época do boi gordo e das vacas magras. Às vezes é preciso dar o couro
para vencer na vida. E não tenha medo de
mudar. Muuude.
A tormenta se avizinhava. O céu plúmbeo não deixava dúvidas de que cairia uma terrível tempestade com o terror colorido dos raios e o barulho assustador dos trovões.
A pobre Marta estava apavorada. Tinha medo do
que estava por vir e se sentia acuada.
Pegou o pequeno livro de orações e começou a rezar. O céu escuro, o riscar dos raios e o barulho
dos trovões pareciam desenterrar todas as suas culpas. Via impropérios e promessas de
castigos sendo proferidos em cada ribombar vindo dos céus. A ira implacável de
deuses nervosos estava para ser
jogada sobre a terra. Um arrepio pelo
corpo uma vontade de se esconder em um lugar bem escuro e protegido.
Tudo acontecia à hora triste e melancólica do crepúsculo, o que dava ao ambiente uma aura
triste e fantasmagórica.
Escureceu um pouco
mais. A noite chegava e Marta acendeu as
luzes da casa, escondeu as facas, desligou alguns aparelhos elétricos da tomada
e ficou andando pela casa para lá e para cá.
A noite chegou depressa. Acabou a energia da casa, então a
escuridão foi total sendo interrompida apenas pelos assustadores flashes
celestiais gigantes que traziam consigo milhões de fantasmas e monstros.
Pensamentos acelerados, mil possibilidades ruins, castigos,
culpas e fim do mundo. Tudo misturado à claridade intermitente e aos barulhos
assustados.
O terror de uma noite de tempestade sozinha em casa fazia
Marta perdeu todo o seu juízo e a levava ao desespero total
Rezou o ofício de Nossa Senhora, a oração a
Santa Bárbara, A salve rainha por três vezes e um monte de outras rezas.
A chuva despencou
provocando outro som assustador, caiu bem forte, mas foi rápida e então tudo
serenou.
Marta se acalmou e suas culpas se esconderam outra vez. Elas
voltariam na próxima tempestade.
A tempestade maior aconteceu dentro dela. A tempestade dos
medos, da ansiedade e dos pensamentos
acelerados e catastróficos. Raios de medos, trovões de culpas, chuva de
terrores. Tempestade no peito, nas nuvens da alma, no íntimo do ser.
Nos céus da alma as
tormentas vêm e vão. Dias claros e agitados se alternam. Chovem momentos bons e
ruins.
Neste site, um pouco da carreira literária de Múcio Ataide, seguindo o caminho das letras para brindar a vida e descobrir seus encantos e...