domingo, 5 de dezembro de 2021

VAQUITA E BOILERO

 Eu tenho um amigo poeta muito talentoso que se chama Afonso Castro e reside na cidade de Maravilhas MG. Ele criou um personagens para usar em suas trovas e através dele dizer muitas coisas O personagem   é  o Boilero (um boi muito especial) . Essas trovas abaixo explicam bem a questão   

BOILERO VI

Já nasceu fadado ao escuro, 

filho da tal vaca louca.

Boi de carroça, pé duro, 

na vida pândega pouca.


BOILERO VII

"O Brasil por mim se ufana, 

não tem nada de sinistro.

Eu vivo na terra plana", 

são falas do Boi Ministro.

PS.: Boto na boca dos bois as falas que acredito e quero (risos)...

Afonso de Castro Gonçalves.

Maravilhas das Gerais.


Eu então resolvi fazer uma brincadeira com ele, na verdade uma homenagem na forma de uma crônica bem satírica  onde o mundo bovino é o assunto principal. 

O texto é uma brincadeira, uma sátira feito de forma descontraída e despreocupada  e  eu nem o corrigi, apenas fiz algumas aparas daqui e dali. 

 Parabens Afonso pelos seus belos versos. Muito sucesso para você. 

Vejam esta linda história de amor:


 Vaquita e Boilero

A história de amor começou numa exposição agropecuária.

A vaca olhou para o boi e começou a paquerá-lo. O boi retribuiu pois era muito boleiro.   Ela também era uma vaca boleira, e poderia ser chamada de  vaca leira, se algum poeta lá de Minas tivesse criado essa expressão.  Lembrou-se daquela frase que usava nos tempos de menina: A vaca mica o boi e o boi não dá leite. Foi amor ao primeiro balde.. O valente touro coçou o chifre no chão e resolveu abordá-la. Chegou  perto dela com o lero de boi  apaixonado. A vaca logo o classificou de boilero, um  boi cheio de lero. E assim começou aquele amor bovino, que apesar do perigo dos chifres (amor de bovinos sempre esbarra no chifre) prometia ser amor para toda a vida. Aquela relação prometia dar muito  leite.

Saíram pela night e foram dançar um bolero de rosto  quase colado, só não foi colado porque o chifre atrapalhou.

Depois foram até um lugar distante onde puderam observar as estrelas e ver a via láctea.

Ele contou muitas histórias, contou até aquela para o boi dormir. E assim foram se conhecendo pelos pastos da vida.

Boilero era primo do boi soberano que pertencia ao grande cantor e compositor Tião Carreiro. Fora tangido do Mato Grosso pelas estradas no sertão em noites e dias de caminhada. A vaquita como era chamada pelos intimos era premiada em exposições e até um pouco esnobe A vaca  era sobrinha neta do boi bandido famoso pelos rodeios do brasil e parente distante daquela pobre vaquinha que ia para o matadouro tão magra que tinha os ossos furando o couro.

 

Casaram-se e foram passar a lua de mel no Curral Resort em Uberaba. Foi lindo.

 Depois de algum tempo se engajaram na luta política e cantavam a música vida de gado, vaca profana  como sinal de protesto.

Protestaram também contra o poderio econômico representado pelo touro de ouro na bolsa de valores de são Paulo.

Eram livres pensadores, um pouco anarquistas, não quiseram  se filiar ao Jersismo nem ao Nelorismo.

Reclamaram da qualidade do pasto, do milho que lhes era oferecido. Fizeram protesto na porta de matadouros e frigoríficos contra a matança de sua espécie. E apoiaram as ações e invasões do movimento social chamado BSC boi sem curral.

No natal montavam um lindo presépio, e no presépio deles não havia ovelhas nem pastores, somente bois e vacas.

Um dia conheceram a obra de um poeta mineiro que usava muito um boi em suas trovas e ficaram extremamente felizes. Aquele era um poeta talentosíssimo tinha muito criatividade,  e não ficava só boiando nas trovas, mas fazia tudo com muito capricho. O boi ficou orgulhoso ao ver seu nome sendo usado em lindos versos poéticos e de protestos.  Era o poeta das maravilhas.

Tiveram apenas um filhinho, e deram a eles o nome de bezeleiro. Na hora de fazê-lo dormir evitavam cantar a música boi da cara preta, porque a achavam que a canção era racista,  mas cantavam  o couro de boi e também aquela:  Eu sou aquele boizinho que nasceu no mês de maio...

De repente o boilero ficou vaidoso. Estava se considerando um machão reprodutor e mudou todo o seu comportamento. Começou a sair por aí...

A vaca gostava de bater longos papos com o retireiro que vinha todas as manhãs. Ela desabafava com ele, falava do boleiro e que andava desconfiada que seu parceiro  estava pulando a cerca  e indo até a malhada que ficava na outra fazenda. E a fofoca se estendia por algumas horas.  A vaca chorava e dizia que não merecia o chifre.  O retireiro dizia que ela tinha que se cuidar mais, talvez colocar um silicone porque estava com a teta muito caída. A vaca disse que isso era culpa do próprio retireiro e do seu trabalho de todas as manhãs e  que  infelizmente aquela era a sua sina. O retireiro ficou triste com a depressão da amiga e disse que seu leite estava secando por causa disso, dali a pouco ia dar Leite ninho.  Ela chorava e  ficava ruminando aquela ideia de  que se ele já estivesse apaixonado por outra não adiantava chorar sobre o leite derramado.

O boi jurava que era mentira e que poderia ser mochado se isso fosse verdade. Podia até ter seus olhos arrancados e usados como tentos numa partida de truco.

Ela boilou uma forma de pegá-lo em flagrante com o chifre na massa. Então seguiu as patas pelo  pasto a fora e chegou ao local da traição.  Fez um escândalo quando encontrou o harem. Ali estava o boileiro com a malhada, a mimosa, a brabuleta,  a mocha, que viera lá do sítio do picapau amarelo  e outras . Até a estrela que ficou famosa porque foi tema de uma música e que pertencia ao poeta Patativa do Assaré ali estava. E fubá nem desconfiava.  Uma surubaca só.

A vaca rodou a anca, agitou a fraldinha, arrepiou a chã de fora, bufou  de raiva e saiu acém por hora. Parecia até que estava com a doença da vaca louca. Foi para cima das outras e fez o maior escândalo.

-Suas vacas! Eu vou mostrar para vocês – A vacada estourou e  começou  a saltar pelo pasto à fora.

Olhou para boleiro e disse;

-Seu sem vergonha. Eu sabia que estava me pondo chifre.

O boi amuado ficou no cantinho com medo. Não soltou nenhum mujidinho.  

Depois de uma boa bronca os dois voltaram para cá.

A principio a vaca pensou em abandonar de vez o parceiro. Manda-lo ir comer capim. Mas ruminou melhor as possiblidades  e resolver varrer a sujeira para baixo do casco.  

Não se falavam mais, nem um méee de bom dia. Nada. E ficaram alguns dias calados, parecia até que estavam brincando daquela brincadeira da vaca amarela pulou a  janela....

Passaram a dormir em currais separados

Aquele episódio quase terminou em divórcio. Mas enfim se reconciliaram e o boi prometeu se comportar.

A vida seguiu entre altos baixos.

Depois de algum tempo levaram o bezeleiro embora e os dois ficaram  ruminando aquela tristeza..

Envelheceram juntos e um dia   foram conduzidos a um matadouro onde boilero se despediu chorando de sua amada.  Reviveram sua vida quando os dois  ficavam de lero um com outro, e depois quando dançaram boleros. Os protestos contra o boi da bolsa ao som de vida de gado. Às vezes em que ele recitou para ela as belas trovas do poeta das maravilhas. Reviveram tudo no momento do fim. E se foram os dois juntos, vaca cadáver e boi defunto.

A vida é breve e como dizia o grande mestre espiritual ZEBUDA: não fique ruminando os problemas. Existe a época do boi gordo e das vacas magras. Às vezes é preciso dar o couro para vencer na vida. E não tenha  medo de mudar.  Muuude.

 

 


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