Eu tenho um amigo poeta muito talentoso que se chama Afonso Castro e reside na cidade de Maravilhas MG. Ele criou um personagens para usar em suas trovas e através dele dizer muitas coisas O personagem é o Boilero (um boi muito especial) . Essas trovas abaixo explicam bem a questão
BOILERO VI
Já nasceu fadado ao escuro,
filho da tal vaca louca.
Boi de carroça, pé duro,
na vida pândega pouca.
BOILERO VII
"O Brasil por mim se ufana,
não tem nada de sinistro.
Eu vivo na terra plana",
são falas do Boi Ministro.
PS.: Boto na boca dos bois as falas que acredito e quero (risos)...
Afonso de Castro Gonçalves.
Maravilhas das Gerais.
Eu então resolvi fazer uma brincadeira com ele, na verdade uma homenagem na forma de uma crônica bem satírica onde o mundo bovino é o assunto principal.
O texto é uma brincadeira, uma sátira feito de forma descontraída e despreocupada e eu nem o corrigi, apenas fiz algumas aparas daqui e dali.
Parabens Afonso pelos seus belos versos. Muito sucesso para você.
Vejam esta linda história de amor:
A história de amor
começou numa exposição agropecuária.
A vaca olhou para o boi
e começou a paquerá-lo. O boi retribuiu pois era muito boleiro. Ela
também era uma vaca boleira, e poderia ser chamada de vaca leira, se algum poeta lá de Minas tivesse
criado essa expressão. Lembrou-se
daquela frase que usava nos tempos de menina: A vaca mica o boi e o boi não dá
leite. Foi amor ao primeiro balde.. O valente touro coçou o chifre no chão e
resolveu abordá-la. Chegou perto dela
com o lero de boi apaixonado. A vaca
logo o classificou de boilero, um boi
cheio de lero. E assim começou aquele amor bovino, que apesar do perigo dos
chifres (amor de bovinos sempre esbarra no chifre) prometia ser amor para toda
a vida. Aquela relação prometia dar muito
leite.
Saíram pela night e
foram dançar um bolero de rosto quase
colado, só não foi colado porque o chifre atrapalhou.
Depois foram até um
lugar distante onde puderam observar as estrelas e ver a via láctea.
Ele contou muitas
histórias, contou até aquela para o boi dormir. E assim foram se conhecendo
pelos pastos da vida.
Boilero era primo do
boi soberano que pertencia ao grande cantor e compositor Tião Carreiro. Fora
tangido do Mato Grosso pelas estradas no sertão em noites e dias de caminhada.
A vaquita como era chamada pelos intimos era premiada em exposições e até um
pouco esnobe A vaca era sobrinha neta do
boi bandido famoso pelos rodeios do brasil e parente distante daquela pobre
vaquinha que ia para o matadouro tão magra que tinha os ossos furando o couro.
Casaram-se e foram
passar a lua de mel no Curral Resort em Uberaba. Foi lindo.
Depois de algum tempo se engajaram na luta
política e cantavam a música vida de gado, vaca profana como sinal de protesto.
Protestaram também contra
o poderio econômico representado pelo touro de ouro na bolsa de valores de são
Paulo.
Eram livres pensadores,
um pouco anarquistas, não quiseram se
filiar ao Jersismo nem ao Nelorismo.
Reclamaram da qualidade
do pasto, do milho que lhes era oferecido. Fizeram protesto na porta de
matadouros e frigoríficos contra a matança de sua espécie. E apoiaram as ações
e invasões do movimento social chamado BSC boi sem curral.
No natal montavam um
lindo presépio, e no presépio deles não havia ovelhas nem pastores, somente
bois e vacas.
Um dia conheceram a
obra de um poeta mineiro que usava muito um boi em suas trovas e ficaram
extremamente felizes. Aquele era um poeta talentosíssimo tinha muito
criatividade, e não ficava só boiando
nas trovas, mas fazia tudo com muito capricho. O boi ficou orgulhoso ao ver seu
nome sendo usado em lindos versos poéticos e de protestos. Era o poeta das maravilhas.
Tiveram apenas um
filhinho, e deram a eles o nome de bezeleiro. Na hora de fazê-lo dormir
evitavam cantar a música boi da cara preta, porque a achavam que a canção era
racista, mas cantavam o couro de boi e também aquela: Eu sou aquele boizinho que nasceu no mês de
maio...
De repente o boilero
ficou vaidoso. Estava se considerando um machão reprodutor e mudou todo o seu
comportamento. Começou a sair por aí...
A vaca gostava de bater
longos papos com o retireiro que vinha todas as manhãs. Ela desabafava com ele,
falava do boleiro e que andava desconfiada que seu parceiro estava pulando a cerca e indo até a malhada que ficava na outra
fazenda. E a fofoca se estendia por algumas horas. A vaca chorava e dizia que não merecia o
chifre. O retireiro dizia que ela tinha
que se cuidar mais, talvez colocar um silicone porque estava com a teta muito
caída. A vaca disse que isso era culpa do próprio retireiro e do seu trabalho
de todas as manhãs e que infelizmente aquela era a sua sina. O
retireiro ficou triste com a depressão da amiga e disse que seu leite estava
secando por causa disso, dali a pouco ia dar Leite ninho. Ela chorava e ficava ruminando aquela ideia de que se ele já estivesse apaixonado por outra
não adiantava chorar sobre o leite derramado.
O boi jurava que era
mentira e que poderia ser mochado se isso fosse verdade. Podia até ter seus olhos
arrancados e usados como tentos numa partida de truco.
Ela boilou uma forma de
pegá-lo em flagrante com o chifre na massa. Então seguiu as patas pelo pasto a fora e chegou ao local da
traição. Fez um escândalo quando
encontrou o harem. Ali estava o boileiro com a malhada, a mimosa, a brabuleta, a mocha, que viera lá do sítio do picapau
amarelo e outras . Até a estrela que
ficou famosa porque foi tema de uma música e que pertencia ao poeta Patativa do
Assaré ali estava. E fubá nem desconfiava. Uma surubaca só.
A vaca rodou a anca,
agitou a fraldinha, arrepiou a chã de fora, bufou de raiva e saiu acém por hora. Parecia até que
estava com a doença da vaca louca. Foi para cima das outras e fez o maior escândalo.
-Suas vacas! Eu vou
mostrar para vocês – A vacada estourou e começou a saltar pelo pasto à fora.
Olhou para boleiro e
disse;
-Seu sem vergonha. Eu
sabia que estava me pondo chifre.
O boi amuado ficou no
cantinho com medo. Não soltou nenhum mujidinho.
Depois de uma boa
bronca os dois voltaram para cá.
A principio a vaca
pensou em abandonar de vez o parceiro. Manda-lo ir comer capim. Mas ruminou
melhor as possiblidades e resolver
varrer a sujeira para baixo do casco.
Não se falavam mais,
nem um méee de bom dia. Nada. E ficaram alguns dias calados, parecia até que
estavam brincando daquela brincadeira da vaca amarela pulou a janela....
Passaram a dormir em
currais separados
Aquele episódio quase
terminou em divórcio. Mas enfim se reconciliaram e o boi prometeu se comportar.
A vida seguiu entre
altos baixos.
Depois de algum tempo
levaram o bezeleiro embora e os dois ficaram ruminando aquela tristeza..
Envelheceram juntos e um
dia foram conduzidos a um matadouro
onde boilero se despediu chorando de sua amada.
Reviveram sua vida quando os dois
ficavam de lero um com outro, e depois quando dançaram boleros. Os
protestos contra o boi da bolsa ao som de vida de gado. Às vezes em que ele
recitou para ela as belas trovas do poeta das maravilhas. Reviveram tudo no
momento do fim. E se foram os dois juntos, vaca cadáver e boi defunto.
A vida é breve e como
dizia o grande mestre espiritual ZEBUDA: não fique ruminando os problemas.
Existe a época do boi gordo e das vacas magras. Às vezes é preciso dar o couro
para vencer na vida. E não tenha medo de
mudar. Muuude.
Nenhum comentário:
Postar um comentário