A jovem Maria, bela e sonhadora olhava a rua no fim da tarde. E olhava também para o horizonte. Na pequena cidade era possível contemplar os montes distantes. Ainda não havia a selva de pedras que barra essa visão em muitas outras cidades.
Ela olhava o horizonte que acolhia a escuridão da tardinha. Com
rajas vermelho amareladas apresentava um espetáculo de rara beleza.
O sol já partira e a escuridão ia aos poucos comendo o céu e espalhando sombras. Era a hora indecisa
entre a noite e o dia, a tristeza e a alegria. Entre o bom e o ruim.
Um sino tocava, uma melodia voava pelos céus em notas
tristes, vinda da matriz que ficava ali bem pertinho. A oração da Ave Maria penetrava no fundo da
alma e de lá extraia mil tesouros do sentir. Vasculhava o amago do ser e fazia
dor pra valer.
A tarde era triste e bela, fazia promessas e cobrava também.
A beleza podia até apagar a dor, mas essa se escondia em cada sombra.
Os sentimentos eram confusos e se alternavam.
Indagações e delírios pairavam no ar.
Tardinha de sábado na janela entre a luz e a escuridão,
entre a esperança e o desespero.
A noite prometia surpresas e logo as coisas iam se ajeitar,
mas naquele momento tudo era confuso e os sentimentos do bem e do mal, muito
intensos.
Talvez por um delírio,
pela alucinação de seus sentimentos
Maria viu dois seres abraçados, voando pela rua. Dois espectros esfumaçados. Delírio
advindo do seu estado de torpor emocional? Ou os seres do mundo dos mistérios que
acordavam para rondara pela noite como sempre fazem? Não sabia responder, mas
poderia definir como a dança elegante entre
a tristeza e a alegria. Os dois seres dos extremos que bailavam bonito pelas ruas da cidade naquela hora do
lusco-fusco, no paradoxo daquela tarde.
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