Eu seguia pela longa avenida. Estava animado porque estava indo para a festa. A cidade era luz MG. Uma bela cidade do nosso interior mineiro.
A velha historia de sonhar com
momentos bons e fazer o sonho acontecer.
Planejar a viagem, me arrumar, colocar a esperança na mochila e seguir pela
estrada. E no trajeto descobrir mil
coisas boas: O hotel e o sempre delicioso café da manhã, conhecer a cidade suas ruas, praças, monumentos, igrejaqs, seus cantos e encantos, os
restaurantes com seus também deliciosos
pratos, parada gostosa entre uma caminhada e outra, as tardes de reflexões e
planos, as lanchonetes e bares onde se
prova os sabores do lugar. As promessas
de diversão e aventura que povoam a mente. E a noite com seus mistériose suas luzes. Um
conjunto de prazeres que incluía aquela caminhada solitária rumo à festa. Algumas realizações planejadas com esmero já haviam acontecido e outras ainda viriam. Dali a
pouco a alegria da festa, as pessoas bem traiadas, como se costuma dizer,
andando para lá e para cá, os sabores e cheiros, o perigo pulando na arena, as
luzes do palco e muitas, muitas coisas boas mais. Alegrias, muitas alegria! Prazeres e promessas de prazeres.
Muitos carros passavam e pedestres também, todos animados para a festa de peão. O rodeio, os shows as
novidades geravam um clima de alegria
que invadia a cidade e trazia de longe muitos visitantes que vinham com o ânimo na mochila e
a vontade de curtir a vida e aproveitar tudinho.
E eu era um deles.
Enquanto andava olhei para traz e
vi um espectro de luz que parecia pairar no ar da cidade. Um pequeno pedaço do céu
na terra. A imponente catedral. Toda iluminado por luzes verdes parecia boiar
no ar. Lembrando a fé, os preceitos religiosos, a grandiosidade dos templos e
dos poderes. A imagem despertava em mim
um quê de culpa, uma sensação de pequenez e de nada saber sobre os mistérios da
eternidade. Linda, estupendamente linda! Estive ali mais cedo, na hora em que a
decência reina, na fisionomia contida das pessoas, no recato dos poucos
movimentos, na hora da missa. Mas aquela hora já passou, agora é hora da festa,
dos movimentos não contidos, de rasgar um pouco o recato. De romper algumas
barreiras.
O enorme edifício lá estava, e
todos aqueles que participaram da celebração agora dormiam ou estavam assim
como eu indo para a festa. Era o outro
lado da vida, primeiro o contido, o comportado, o religioso, agora o profano, o
aventureiro.
E o movimento continuava. Carros
e pessoas, um zumzum que aumentava ao
chegar perto do parque de exposições. Passavam todos agitados, gritando, cantando,
ouvindo alto as músicas pelos toca fitas dos carros. Um motel no caminho era a
parada de alguns deles. Música, festa, bebidas sexo, cada um com sua ilusão. Todos
esperam alguma coisa de um sábado à noite, como dizia aquela velha canção.
Eu andava e de vez em quando
olhava para traz.
Não conseguia deixar de olhar
para as luzes verdes muitos brilhantes que fazeiam destacar aquele tesouro arquitetônico,
sobre todas as outras construções da
cidade. Aquela imagem parecia unir dois mundos. De um lado a alegria, a festa e
a aventura, a vontade louca de abraçar a vida e usufrui de todas as suas
possiblidades rompendo todas as barreiras. Uma postura que fecha os olhos da consciência
para o lado sombrio do existir, para o fim, para a decadência e para as
verdades escondidas e amarradas Lá no fundo do âmago. Do outro, a ideia ruim
que escapa e vem incomodar. Essa festa acaba, essa alegria acaba, tudo tem um
fim. Tudo é ilusão. Fumaça que se perde no ar.
A construção iluminada imponente,
com todas as suas torres apontando para
o céu escancarou-me os extremos da existência. As forças paradoxais que
coexistem e são ambas verdadeiras. Lados opostos do existir
Fui andando e olhando para aquele
espectro na noite
Depois da festa, voltando pelo
mesmo caminho, ela ainda estava lá, mais uma vez me mostrando no silencio da
madrugada, depois da reza e da festa, que a vida continuava e o eterno rosário repleto
de contas do bem e do mal, seria ainda rezado por mim em muitas outras ocasiões.
Dois mundos distantes e ao mesmo tempo tão proximos. Quem sabe até um necessite do outro para existir.
A noite seguia seu curso...
Enquanto me foi possível olhei
para aquela igreja. Grande, iluminada, imponente e reveladora. Espectro de luz
e de verdades que pairava ao longe, como que
boiando no ar, na beleza triste e
silente da madrugada.
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