Chegou à livraria e começou a olhar as prateleiras encantada com tudo que via. Ana Lívia era a leitura em pessoa. Bastava olhar para ela andando igual a um zumbi em meios aos livros para perceber seu fascínio por aquele mundo. Pegava um livro, olhava a capa, lia a sinopse, queria comprar, perguntava o preço e então desanimava. Olhava outro e o mesmo ritual se repetia.
Depois de algum tempo foi até uma prateleira dos livros
antigos de literatura brasileira e conseguiu enfim achar um mais em conta.
A vontade era parar um caminhão ali na frente da loja e
levar tudo. Aquele lugar parecia um castelo encantado. Um lugar mágico com milhões
de mundos mágicos, aventuras, ensinamentos. Enfim era para ela um pedacinho do céu
na terra.
A leitura é algo bom,
prazeroso traz conhecimento cultura, amplia a mente, nos fazer viajar por
diversos mundos e todos sabemos de suas
inúmeras vantagens , mas é uma estrada às vezes tortuosa. Além do preço que está
sempre fora do orçamento da gente, o
livro exige atividade mental, raciocínio,
achar o tempo para ler, aceitar ser prisioneiro das tramas e até sofrer junto
com os personagens. Mas é algo maravilhoso.
Depois observou que existia num canto uma placa com os
dizeres:
“PÁSSAROS TEM ASAS, HOMENS TEM LIVROS”.
Achou a frase inspiradora, mas ficou abismada com dois grosseiros
erros gramaticais numa
frase escrita em uma livraria. Torceu
o rosto e seguiu em frente.
Logo em seguida Ana
resolveu resolver um antigo problema das leituras. A ideia surgiu naquele
momento e veio como um maravilhoso insight. Foi até o setor de papelaria e
começou um diálogo inusitado com a balconista.
-Moça, boa tarde.
-boa tarde
-Eu queria clip.
-Ah desculpe não
temos aquele suporte para fazer vídeos.
-Não espera, não é nada disso. Eu não estou falando de vídeo
clipe. Eu falo de clips de papel
-Feitos de papel?
-Não. Os clipes não são feitos de papel. Papel não é a matéria
prima. São usados no papel.
-De qual tipo a senhora quer.
-Na verdade eu quero clipes de plásticos. Eu quero para
marcar livros, mas não quero daqueles que marcam livros.
-Deixa eu entender melhor. A senhora quer marcar ou não
marcar? Que marque ou que não marque?
-Assim, eu quero marcar o livro quando estiver lendo, mas é
bom que o clips não marque o livro.
-Eu confesso que estou confusa.
Ana então começou a vasculhar sua mente tentando encontrar
as palavras. Olhou em volta e os livros a inspiraram. Afinal através deles conseguimos
nos comunicar melhor com as pessoas. Então mergulhou nas lembranças de antigas leituras, trouxe o poder da palavra, a
força do raciocínio e o bom ordenamento das ideias e sentiu-se segura para
explicar.
-Eu quero uma caixa de clips, esses pequenos objetos que
servem para prender as folhas, vou usá-los para marcar nos livros o ponto em
que estou nas minhas leituras. Quero-os de plásticos porque assim eles não vão
estragar os livros. Quero marcar os livros no sentido de determinar meu ponto
na leitura e não quero marcar no sentido de estragar ou danificá-los. Entendeu?
-Sim. Mas infelizmente não temos. Temos clips apenas de
metal.
-E esses marcam bastante né?
-Uai, a senhora não queria marcar?
-Deixa isso para lá, eu vou anotar o número da página num
caderninho.
-Tchau.
-Tchau.
LER É BOM, MAS NÃO É FACIL NÃO.
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