terça-feira, 19 de julho de 2022

LER É BOM, MAS NÃO É FÁCIL NÃO.

 Chegou à livraria e  começou a olhar as prateleiras encantada com tudo que via.  Ana Lívia era a leitura em pessoa.  Bastava olhar para ela andando igual a um zumbi em meios aos livros para perceber seu fascínio por aquele mundo.  Pegava um livro, olhava a capa, lia a sinopse, queria comprar, perguntava o preço e então desanimava. Olhava outro e o mesmo ritual se repetia.

Depois de algum tempo foi até uma prateleira dos livros antigos de literatura brasileira e conseguiu enfim achar um mais em conta.

A vontade era parar um caminhão ali na frente da loja e levar tudo. Aquele lugar parecia um castelo encantado. Um lugar mágico com milhões de mundos mágicos, aventuras, ensinamentos. Enfim era para ela um pedacinho do céu na terra.

A leitura  é algo bom, prazeroso traz conhecimento cultura, amplia a mente, nos fazer viajar por diversos mundos  e todos sabemos de suas inúmeras vantagens , mas é uma estrada às vezes tortuosa. Além do preço que está sempre fora do orçamento da gente,  o livro exige  atividade mental, raciocínio, achar o tempo para ler, aceitar ser prisioneiro das tramas e até sofrer junto com os personagens. Mas é algo maravilhoso.

Depois observou que existia num canto uma placa com os dizeres:

“PÁSSAROS TEM ASAS, HOMENS TEM LIVROS”.

Achou a frase inspiradora, mas ficou abismada com dois grosseiros  erros gramaticais  numa  frase escrita em uma livraria.  Torceu o rosto e seguiu em frente.

Logo em seguida  Ana resolveu resolver um antigo problema das leituras. A ideia surgiu naquele momento e veio como um maravilhoso insight. Foi até o setor de papelaria e começou um diálogo inusitado com a balconista.

-Moça, boa tarde.

-boa tarde

-Eu queria  clip.

-Ah desculpe  não temos aquele suporte para fazer vídeos.  

-Não espera, não é nada disso. Eu não estou falando de vídeo clipe. Eu falo de clips de papel

-Feitos de papel?

-Não. Os clipes não são feitos de papel. Papel não é a matéria prima. São usados no papel.

-De qual tipo a senhora quer.

-Na verdade eu quero clipes de plásticos. Eu quero para marcar livros, mas não quero daqueles que marcam livros.

-Deixa eu entender melhor. A senhora quer marcar ou não marcar? Que marque ou que não marque?

-Assim, eu quero marcar o livro quando estiver lendo, mas é bom que o clips  não marque o livro.

-Eu confesso que estou confusa.

Ana então começou a vasculhar sua mente tentando encontrar as palavras. Olhou em volta e os livros a inspiraram. Afinal através deles conseguimos nos comunicar melhor com as pessoas. Então mergulhou nas lembranças de  antigas leituras, trouxe o poder da palavra, a força do raciocínio e o bom ordenamento das ideias e sentiu-se segura para explicar.

-Eu quero uma caixa de clips, esses pequenos objetos que servem para prender as folhas, vou usá-los para marcar nos livros o ponto em que estou nas minhas leituras. Quero-os de plásticos porque assim eles não vão estragar os livros. Quero marcar os livros no sentido de determinar meu ponto na leitura e não quero marcar no sentido de estragar ou danificá-los. Entendeu?

-Sim. Mas infelizmente não temos. Temos clips apenas de metal.

-E esses marcam bastante né?

-Uai, a senhora não queria marcar?

-Deixa isso para lá,  eu vou anotar o número da página num caderninho.

-Tchau.

-Tchau.

LER É BOM, MAS NÃO  É  FACIL NÃO.

 

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