quarta-feira, 30 de novembro de 2022

A MORTE ENSINA

 O que é a morte? Que força é essa que nos joga ao chão? O maior de todos os mistérios? Quem morre vira santo? A morte cria qualidades nas pessoas? Porque exaltamos coisas e acontecimentos que minutos antes do falecimento não tinham a menor importância para nós? Será que  a falsidade que nos rodeia, a exaltação do ego que nos faz aproveitar esse momento para pavonearmo-nos com  belos discursos vazios?  Perguntas... perguntas...

É difícil responder a qualquer pergunta referente à morte. Pois ela, essa abominável senhora da foice é a  mais enigmática de todas as damas. Ela é a personificação do mistério.  A guardadora zelosa dos maiores segredos. Os segredos do lado de lá. Só através do seu abraço conheceremos o lado de lá. E o lado de lá enquanto estamos do lado de cá  existe apenas na nossa imaginação. Ninguém  sabe nada.  Mistério total.  É o motivo de inúmeras  indagações e de uma enorme lista de perguntas  feitas pela humanidade ao longo de toda a sua existência.   Nosso encontro com ela está marcado, sabemos que vai acontecer, mas fugimos de suas garras de todas as formas possíveis. Por isso as perguntas acima como todas as demais relacionadas a essa cruel ceifadora são difíceis de responder, mas vou divagar um pouco sobre isso.  

Não acredito que ninguém vire santo porque faleceu. Não é isso que acontece. Acredito que  a morte da forma mais contraditória possível vem despertar, fazer renascer em nos a vida da alma, morta pelas contingências da vida.  E tal qual um farol nos faz  acordar de um sono letárgico e alienante. Percebemos coisas, descobrimos coisas que pensávamos não saber, mas sabemos. Entendemos a brevidade da existência e salientamos as qualidades daquela pessoa. Qualidades existentes, não criadas.  Ela toca lá no fundo e nos faz lembrar a importância de se dar importância aos momentos simples do dia a dia e a valorizar tudo o que temos. Quem já não vou ouviu em um  velório cochichos e lamentos  sobre  a constatação da pequenez da nossa existência. Por todos os cantos pode-se ouvi  as frases:  –Não valemos nada. Vamos aproveitar o hoje, Valorizar o que temos. E coisas assim...

Recuperamos naquele momento  valores esquecidos e ignorados. Muitas pessoas após perderem um ente querido se voltam para a família. Passam a conviver melhor com os que ficaram e mudam seu comportamento. Outros passam a cuidar mais da saúde. E outros infelizmente não resistem ao choque direto com a efemeridade e desmontam na mais profunda depressão.

Mas a cruel ceifadora é capaz de fazer o tempo voltar.  Como num passe de mágica a dama da foice nos mostra o quanto cada momento foi importante e o quanto gostávamos daquela pessoa. Ela nos toma pela mão e nos leva até aquele festivo almoço de domingo ouvindo  o burburinho, os risos alegres, as brincadeiras. Também nos conduz até  aquelas cenas perdidas na infância com todo o seu encanto. Faz-nos sentir de novo a quentura do colo, a suavidade do carinho, a doçura do beijo, a ternura do olhar. Com um sorriso sarcástico a mulher da foice nos conta que gostávamos muito do cheiro daquela pessoa, do estilo dela, da forma de se vestir, do temperamento, de todas as suas qualidades e até mesmo dos defeitos.  Põe outra vez diante de nós a beleza viva daquele semblante, os movimentos, o jeito único de ser. Ela puxa a cadeira e nos faz sentar na varanda e ouvir de novo aquele timbre único e inigualável de voz. E ouvir aquele bordão de estimação, aquela história contada, esquecida e repetida, repetida... Faz-nos ver  quanto aquele gesto e aquela atitude  eram importantes para nós. E de novo, levados pelas suas mãos esqueléticas  lá estamos naquele aniversário, naquele natal de luz, na festa do ano novo ,no almoço de domingo na  casa da vovó, no passeio à praia...curtindo aquela pessoa e vendo o quanto de vida transbordou sem percebermos.  Conta-nos até que gostávamos sem saber daquele tique nervoso, daquela mania estranha, daquele jeito de falar ou daquelas atitudes. Então tudo era importante?  Faz-nos ver que existia muita vida onde pensávamos existir apenas o dia a dia.

 Não elas não criaram qualidades após a morte, apenas nos lembramos de que elas existiram.  A morte vem nos acordar. É o despertador que nos acorda da nossa letargia, da nossa pequenez diante da importância da vida, dos momentos vividos e da pessoa que se foi. Ela nos mostra caminhos e nos faz ver que apesar de efêmera e pequena (Contradição pura. Paradoxo total.) a vida é grande e deve ser vivida de forma plena com outro olhar, com a valorização de todos os pequenos momentos do existir, com a exaltação do que melhor existe em quem está do nosso lado na caminhada.

 Mas é assim que a coisa funciona. Responder as perguntas sobre ela jamais conseguiremos, fugir do corte afiado de sua foice, de forma alguma, mas viver de verdade enquanto ela não vem podemos tentar.

Ouso dizer que a morte é vida e ensina a viver e penso nas toneladas de contradições existentes nessa frase.

Veja a todos como se fossem defuntos. Meu Deus que coisa estranha de se dizer? Nem acredito que escrevi isso, mas o raciocínio é.  Olhe para o vivo com o mesmo olhar. Olhe para quem está do seu lado e pense: como eu viria essa pessoa aqui do meu lado, o que ela seria para mim se ela não mais estivesse aqui?  Ela está.  

Amar mais, tocar mais, sentir mais, olhar mais em volta, a vida acontece agora. Viver de verdade.   A morte ensina

 

quinta-feira, 24 de novembro de 2022

CORES DO BRASIL

 Zilda hasteou grande bandeira verde amarela em frente à sua janela. Queria torcer pelo Brasil na copa

Ficou com medo que alguém achasse que aquela bandeira tinha outro significado.

Pessoas criam símbolos e símbolos podem ser usados para o bem e para o mal. Símbolos podem ser roubados dos seus verdadeiros detentores e usados para diversos interesses. Bandeira. Qual bandeira você hasteia? Qual norteia você? De que cores são? O que defendem? Qual o define? O que é a bandeira da sua vida?

A bandeira do Brasil é de todos os brasileiros, nosso símbolo, símbolo do gigante, do brado retumbando, daquele que não foge à luta. Do impávido colosso, e isso não é pouco. Pátria amada Brasil no céu de anil. Não a roubem, não a manchem, não a envergonhem. Terra de paz, de amor, de alegria, de solidariedade, não de ódio de rancor. É o pavilhão maravilhoso dessa nação também maravilhosa . Não é símbolo do ódio, nem dos privilégios. Não é símbolo de poucos, mas de todos nós.

Zilda recolheu a bandeira da janela, pediu a um amigo pintor que escrevesse uma frase com letras bem grandes na parte verde de baixo:

É PRA COPA.

E o gigante tremulou na janela.


quarta-feira, 23 de novembro de 2022

ANAHI

 Sentimos, simplesmente sentimos e muitas vezes não podemos explicar. As coisas aqui por dentro são confusas, indecifráveis, pois somos uma célula apenas do grande mistério que ronda, do plasma de incógnitas que cobre todo o existir. E como uma fruta inacessível lá no alto do galho a explicação para muitas sensações não é alcançada. E ficamos sem poder provar o delicioso sabor da verdade. Ela Foge tal qual areia fina pelos vãos dos dedos.

Como diz aquele povo “lá das Minas Gerais, no sabpassado”, eu estava ouvindo músicas pelo youtube e me encantei como uma. É fato conhecido que sou admirador de música sertaneja, caipira e raiz e uso hoje os recursos tecnológicos para espelhar o meu smartphone a uma caixa de som, amplificando assim o prazer da sonoridade dos belos duetos e das deliciosas melodias do passado. Coisas de quem está na flor da idosidade! E por acaso tocou a música Anahí. E foi exatamente aí que tudo começou. A música é lindíssima, uma versão de uma música paraguaia, vinda de uma época em que as versões do espanhol. (castellano) para o português eram comuns no Brasil. Uma enxurrada de guarânias, rancheiras, polcas, boleros e diversos ritmos latinos invadiram o nosso país. Músicas bem duetadas, com um tom de paixão e melancolia na voz. Para embalar os corações apaixonados e fazer o caboclo gritar: desce mais uma. “Eita que é paixão pra mais de metro”. Mas além das apaixonadas tinham as hsitórias emocionantes e ternas. Coisas que duplas como Castanha e Inhana souberam fazer muito bem.

Admirei a canção. Viajei na melodia. A doçura e a sonoridade dos harpejos, o ecoo pelos ares das notas daquele dueto tão perfeito, me conduziram pelos caminhos da emoção enquanto ouvia.

Tratava-se de uma belíssima lenda. Uma história indígena sabe-se lá quantos séculos girou até chegar a nós. Conta a historia de uma jovem guerreira que vai defender sua tribo, é aprisionada e levada até a fogueira, quando as chamas a estão queimando a jovem se transforma numa linda flor. Os inimigos fogem assustados e os pássaros cantam comemorando o milagre da flor , da flor de Anahi.

Não sei se foi por causa da belíssima melodia, do doce e suave dueto, da beleza da lenda, ou de algo mais, mas viajei para outras eras naquele momento. A canção parecia despertar em mim toda uma coisa brasileira, latina, tupi guarani, sei lá... Parece que foi lá no amago, na parte mais profunda do meu ser e arrancou de lá a emoção escondida, perdida nos mistérios da existência. Tenho a impressão de que aquilo transcendeu, ultrapassou minha vida e foi buscar coisas de outras eras antes de mim. Talvez tenha visitado meu avô ou bisavô. Sei não. Mas algo além de humano e além da minha época foi despertado aqui dentro durante aquela canção. A ancestralidade, a miscigenação, os valores escondidos passados de pai para filho... A poesia acorrentada, a beleza envergonhada, ou talvez não seja nada disso, somente a imaginação criando coisas. Mas foi um êxtase, um momento divino e poderia usar palavras e mais palavras, mas as palavras são poucas, não alcançam a emoção, não alcançam esse lado escondido e misterioso que existe dentro da gente. Senti, e foi algo incrível.

Fiz um curso de parapsicologia com o grande padre Quevedo (tratando de assuntos que ecxistem) e ele defendia a ideia de que temos uma memória genética e podemos carregar a memória das sensações vividas por nossos antepassados. Quem sabe não foi isso que aconteceu. Vai ver despertei uma memoria de algum antepassado meu, que viveu numa tribo ou que esteve em volta de uma fogueira numa noite clara de inverno sob os raios de um belo luar, ouvindo histórias belíssimas como as de Anahi. .. Minha vó pela sua aparência poderia até ser descendente de índios. Vai ver até algum ancestral meu foi índio também e acreditava na lenda como verdade incontestável. Viva a glândula pineal que segundo se diz é aquela responsável pela espiritualidade, transcendência e coisas do gênero. Vai ver foi apenas ela, a química do corpo me enganando... Vai ver... quem sabe... talvez... cogitações, possiblidades ...mistérios...

As lendas fazem parte dessa estrada que transito, que todos nós escritores, poetas gostamos tanto de transitar. A estrada dos sonhos, do que é belo e mágico. E que importa se não é verdade cientifica e comprovada? É uma verdade do sentir, é o que acalenta nossa alma e faz a vida ser muito mais bonita.

Foi um momento de prazer e beleza que quero se repita muitas vezes. Extraindo aí dos milagres da eletrônica, da modernidade dos inventos humanos os tesouros de eras bem distantes.

A emoção, não sei explicar, mas quero sempre sentir em minha vida o perfume dessa flor e desse mundo que estava escondido dentro de mim e que Anahí veio perfumar Que a flor de Anahi exale o perfume sobre a gente, o perfume da beleza, da sensibilidade e da magia. E que venha se contrapôs a essa realidade dura, rotineira, exaurida de beleza, que suas pétalas coloram um pouco esse mundo cartesiano, lógico, murcho e sem graça, Pois é a função da arte, da poesia, das lendas e coisas do gênero povoar o mundo de lindas inutilidade como dizia Manoel de Barros. Porque a vida é pequena, a vida é pouca, não basta e precisa dessa outra realidade. Desse mundo além.

Que nunca deixemos silenciar dentro de nós esses divinos acordes harpeados pelas mãos da imaginação e da sensibilidade.

Anahiiii


sexta-feira, 18 de novembro de 2022

AR DE ETERNIDADE

 Um ar de eternidade

Lá a vida tem alto preço

Infância é a morada

De todos os começos

É a poesia do andar lento

E do sentir cada passo

É o brincar de viver

Não à obrigação e dever

Alegria ocupando todos os espaços

terça-feira, 15 de novembro de 2022

ETERNO SR BRASIL

 Rolando se  foi, foi rolando  a poesia, voando nas notas e versos,  acho que foi  tocando uma bela viola e cantando um modão  lá para a terra dos que viajam fora do combinado. 

Foi ele a viola rumo a Deus, esperando encontrar o amor. O amor que ele plantou com a sua arte.

Chegando por lá deverá hastear a bandeira do Brasil bem na entrada. Depois vai proseando, se entrosando e fazendo amizade. Cantando e contando causos. Vai ficar feliz ao encontrar velhos amigos. Vai atuar na peça do Ariano. Com certeza compor um samba com Adoniram. Dar aquela gargalhada com Dominguinhos. Uma prosa muito gostosa com o Dito Preto lembrando os tempos de São Joaquim. Pontear com Tião Carreiro. Quando encontrar o Tinoco vai ouvir em alto e bom som: -Que Beleza! Se esbaldar numa roda de samba com Cartola e Jamelão. Fazer escada de novo num show do Mazzaropi. Duetar com Inhana. Ouvir imitações de Nho Totico. Chupar uma laranja madura na companhia de  Ataulfo.  Cantar e prosear com Gonzaguinha, Gal, Vander Lee, Vinícius,  e tantos outros.

  Pedir a benção a todos os grandes que já passaram por aqui e continuar por lá a ser o Sr. Brasil.

O Brasil fica triste com essa partida, mas fica descoberto, fora da gaveta e sem medo de se  mostrar, de se expor, por obra dele ergue a cabeça e não se dobra subserviente a ninguém. Descobriu seu valor e a imensidão de sua arte.

E concluímos que  no verso e reverso da sua vida inteira espalhou belas sementes e   que ruminando causos, contando história e cantando as coisas do Brasil  dá pra ser feliz. 

A arte e a cultura brasileira perdem muito com essa viagem.

***

As manhãs de domingos

Agora são assim

Alegres por lá, tristes por aqui

 A benção Rolando Boldrin!

sábado, 12 de novembro de 2022

O CRISTO ESTÁ LÁ

 O cristo continua la*

Uma pedra inerte 

No alto da serra

Com a cidade faz flerte 

Eu continuo aqui

Com as minhas indagações 

Assustado com o tempo

Com seu trotar nada lento.

Descendo sobre mim as mutações 


* Ler o texto "Lá ele não desce", publicação nesse blog, o poema é como se fosse a continuação do texto. 


Para de Minas 12 de novembro de 2022





sexta-feira, 11 de novembro de 2022

QUEM PODE TOMAR CERVEJA?

 Autoria Múcio Ataide

Passei pela praça e vi aquele homem tomando cerveja sentando em um banco. Um fato corriqueiro,  já vi pessoas tomando cerveja em vários lugares, nos bares, nas praias, andando pelas ruas com a lata na mão, nada diferente, então o que chamou a minha atenção? Por que eu achei que ele não podia estar ali tomando a cerveja?  A pergunta não demorou a ter uma resposta: aquele era um mendigo que há algum tempo havia me pedido uma esmola na rua. Tinha  certo impedimento físico que segundo ele o impedia de trabalhar.  E o mancebo  usava o dinheiro ganho para beber.

Num primeiro momento senti-me indignado com aquilo e até mesmo enganado. Uma vozinha maldosa disse bem lá no funda da minha mente. – Então esse malandro me enganou, pediu esmola, e eu pensando que era para comprar comida. Agora está ali bebendo. Não está certo isso. O certo seria ele comprar comida. Comprar o essencial para o seu sustento.

Mas logo depois outra voz falou. – Eu chego à minha casa, posso abrir aquela lata de cerveja que está na geladeira e tomar quando eu bem quiser, sem que ninguém julgue o meu momento de prazer. Eu posso, ele não. E porque eu posso? Porque eu tenho um pouco mais.

Então a realidade caiu como uma pedra em cima de mim. Quem tem mais, tem mais direito. Aquele homem tem menos que eu, e um pouquinho só a menos, então ele tem menos direito, eu o julgo por isso. Eu o julgo porque ele está fazendo algo que eu gosto de fazer. Eu o julgo por me achar de certa forma superior a ele.

Então é assim? Ser pobre não é apenas não ter o que comer? É não ter o direito a muitas coisas, é não ter direito a se deliciar com uma boa cerveja. É viver apenas para o que é básico?

Aquele homem que ali está, pobre mendigo, doente, impossibilitado de trabalhar vivendo de esmolas está fadado a não ter prazer, a sepultar sua vida antes da morte. Qual o sentido existe nisso?

Eu tenho apenas um pouco mais que ele, sou pobre, classe baixa, trabalhador, assalariado e posso tomar cerveja, mas ele que tem menos, um pouco a menos, não pode.

Mas o sistema é injusto não apenas para criar necessidade, mas sim para criar a estratificação e classificar as pessoas em classes e categorias. E deles extrai dinheiro  e direito.

A primeira análise empírica, do homem comum, é cruel julga e aponta o dedo para condenar. A segunda, do cientista social entende, compreende que a coisa vai muito além. Muitas questões estão ali dentro daquela lata, que ele sorve com tanta alegria, parecendo ser a coisa mais gostosa do mundo.

Vi uma lógica no meu julgamento e ao mesmo tempo vi uma grande injustiça nele. Percebi como as coisas são perversas e como tudo está calcado em cima da estratificação. Quem pode fazer isso ou aquilo? A quem é dado esse ou aquele privilégio?  Tem mais pode mais, tem menos pode menos? Não é apenas ter o dinheiro para comprar, mas é o direito de realizar. Pois ele tem o dinheiro, ganhou pedindo, não roubando, mas não dou a ele o direito de fazer o que quiser com o dinheiro que é dele.  Soberba, pura soberba.  E por causa disso o meu dedo apontou para ele e logo o execrou pelo ato que pratico com a maior naturalidade sem que ninguém me aponte o dedo. Vejam só o tamanho do abismo que o sistema cria. O enorme buraco que existe entre uma existência e outra.

O primeiro raciocínio simples e empírico faz sentido, é o que todos pensam, mas o segundo vem mostrar o tamanho das injustiças, a calamidade da perda simples de um direito. Pobre só pode comer tal qual um animal vive apenas para as coisas básicas e elementares, não nasceu para os prazeres e delícias , está fadado a carregar sua existência miserável e sem graça até o fim dos seus dias. A mendigar pelo básico, viver pelo básico, uma vida básica e sofrida.

E assim segue até que a vida diga: - Chega, já sofreu demais. A cerveja é só para os privilegiados iguais ao Múcio, quem tem um pouco mais que você, só para os que têm mais, mesmo que seja só um pouquinho mais. Para eles, sim é permitido o prazer, o gozo e as alegrias da vida. Para você não. Bem feito! Quem mandou ser pobre sem nada? Quem mandou não conseguir emprego, quem mandou ser doente e não poder trabalhar? Coisas da sorte, do destino, culpa sua, somente sua.  Direito a menos para você, prazeres a menos para você. O Múcio pode, ele sim, tem direito. Você não. Agora é sua hora de ir. Libere o banco da praça para outros mendigos, outros mais dignos que gastem o dinheiro da esmola com comida e não com prazeres a que não têm direito.

Sai dali pensando sobre essas duas visões. A simples e a sociológica e nenhuma delas resolveu o problema do mendigo que continuou lá saboreando a cerveja, parecendo bem feliz. Um hiato para suas dores e seus dramas.

-Saúde  amigo!

 

sexta-feira, 4 de novembro de 2022

CONTAS DE GOTAS

Deixa a chuva cair

Que ela faz muito bem

Deixa a chuva cair

Que a paz cai também

Brinda com sua doce poesia

Em contas de gotas desfia seu rosário

Vem saudar nossa alegria

Derrame serenidade nesse dia

Do nosso encontro literário

 

 Neste site,  um pouco da carreira literária de Múcio Ataide, seguindo o caminho das letras para  brindar a vida e descobrir seus encantos e...