quarta-feira, 27 de março de 2024

Contas de Eras


Velas

Pedras grandes

Castiçais

Aldravas

Gigantescos umbrais

Janelas e flores

Tapete de cores

Lembranças e ais

Espreme aí, é um beco

Sinos.

Comporta menino

Matraca

Cheiro de pipoca

Cravos... espinhos

Manto...

flores de forte cheiros

Lágrimas, espanto

O roxo e o coxo

Contrição, mortificação

Dores e espadas

Os anjos, todos os anjos...

Carregam o cordão

Cordão de contas

Contas de eras

E eras e eras...

E vai seguindo...

MÚCIO ATAIDE

terça-feira, 26 de março de 2024

TUDO PARECE ESTAR CONTRA.

 Para eles tudo bem, estão no seu habitat. É tudo fácil.  E o movimento, as falas, o barulho tudo isso faz parte do mundo deles. Deles. Os extrovertidos. Ah deve ser bom demais ser um nesse mundo ocidental que valoriza tanto esse jeito de ser. Se gostam de conversar o mundo os acolhe porque o mundo gosta de conversar. Fala demais. Se querem o agito, movimento o barulho, o mundo aí está para satisfazer seus gostos. Se o zumzumzum existe e esse mesmo zumzumzum carrega a bateria deles então são privilegiados. Tudo se encaixa, tudo preparado para eles. Deve ser bom demais.

Difícil é ser introvertido nesse mundo barulhento e agitado. Ver a bateria ao final do dia se esvair, sentir-se cansado por causa de tanta fala e barulho. Querer o silêncio e ele nunca é ofertado. Gostar de refletir e não poder. Querer ler um ebook em um intervalo ou outro do serviço e do barulho, mas o mundo, esse mundo frenético, que não consegue fazer  silêncio, não nos permite um momento de introspecção para ler  e nem conseguimos um pouco de ócio para tal.  Silêncio é pedir demais de um mundo que fala demais, de um mundo cheio de certezas e tão caótico.  Terrível quando nos acusam de introvertidos como se isso fosse uma doença ou crime  e nos aconselham a ser diferentes. Você tem que mudar, tem que se enturmar... Eles podem seguir seu traço natural, mas nós não. Difícil demais ver  o seu jeito de ser, ser desprezado quando muitos o consideram errado e na contra mão do progresso e  do sucesso.

Difícil quando o mundo quer que você seja diferente do que é. Difícil  se encaixar e encontrar uma forma de ser você mesmo.

Não acho que seja ruim ser introvertido, curtir o prazer da solitude e os tesouros do mundo interior, ler, meditar, estar só, sentir a bateria recarregando, é bom sim,  mas às vezes é muito difícil. Parece que tudo está contra a gente.

 

 

sexta-feira, 22 de março de 2024

MEXE DIREITO

"Mexerica madura

doce nectar

sabor sem igual 

adoça a vida 

nas delícias do quintal "


 O menino foi até o quintal, pensou em pegar uma deliciosa mexerica e saboreá-la. tinha uma bem la em cima amarelinha, parecia esta deliciosa. Desaninou-se porem ao perceber que teria que fazer um grande esforço para apanhá-la. Pegar algum objetivo comprido e pontudo e chuchá-la. Até tinha um bambu por ali, mas pensou no esforço que teria que fazer... Desanimou-se

Olhou para o chão e viu uma quase madura caída, era menor que as outras, resolveu então chupá-la, era mais facil apanhar do chão. 

Mordeu-a, mas não estava gostosa, sabia que aquela lá de cima estaria, mas não queria fazer esforço. contentou-se 

As mexericas caem do pé antes de amadurecer. Por que será? 

Por que será que algumas coisas se precipitam na vida? O rumo certo, ou conhecido como certo não é seguido, há atropelos e  por causa disso talvez as coisas percam o sabor. A mexerica temporona não tem a mesma doçura daquela amadurecida no tempo certo. As vezes é mais azeda, noutras aguada, e até seca. 

E tomar o caminho mais facil pode reduzir o prazer. A conquista muitas vezes adoça a boca. O sacrificio tem suas recompensas. É preciso arriscar, buscar solução saber mexer direito com as ferramentas que temos, com os recursos que estão à nossa disposição.  

O tempo faz a diferença é preciso entender isso, mas a ação também.  Não conseguiria há algum tempo ser  o que sou hoje. Não poderia entender certas coisas da vida sem o toque sábio e preciso da maturidade. E também não seria o que sou sem ter feito certos esforços e movimentos para tal. 

Talvez se fosse viver em outros tempos o que vivo hoje, também me tornaria azedo, aguado ou até seco

Tudo tem o seu tempo. 

E a recompensa da doçura vale o esforço. 

terça-feira, 19 de março de 2024

TRISTE SERESTEIROS


 Moro em cidade de interior e aqui ouço os galos cantando na madrugada, alguns cantam lá de bem longe, outros estão aqui nos terreiros vizinhos, tem até o pequeno garnisé que fica aqui no meu quintal. Eles fazem a sinfonia do amanhecer, um coro bem sincronizado. Conversam cantando. Um canta o outro responde e assim vai até que o dia venha e cale por algum tempo suas vozes.

Despertadores naturais, seresteiros das madrugadas, menestréis do sereno, cantando odes à aurora e brindando ao novo dia. Fazem a ponte entre o escuro e o claro, cordas vocais que vibram no degradê vermelho e amarelo, transição entre dois mundos, o sono o despertar, o claro o escuro. São os eternos vigilantes da madrugada.

Mas o que guarda aquele canto? Qual mistério está escondido naquele som um tanto quanto desafinado, desajeitado e esquisito? Não existe ali o trinado harmônico e sereno de pássaros canoros, aqueles que dobram seu cantar enchendo o ar de notas bem combinadinhas, que acariciam os ouvidos da gente. Não, o canto parece fora de hora, de lugar, um pouco rouco, notas distorcidas, mas mesmo assim há um encanto. Há beleza mesmo nas notas desafinadas, porque eles conseguem despertar dentro da gente algo escondido, perdido nas dobras do tempo. Transportam-nos para outras eras e o som acorda uma melancolia e um pesar que moram lá dentro do coração da gente e nem sabíamos que estava lá, até que o som rasga a madrugada puxando a tristeza lá do fundo.

É triste, é triste o cantar do galo. O som ao longe ou ao perto, desperta dor, medo, perda e lamento. Eras perdidas da infância voltam a nos visitar, frases não ditas ditam coisas, alegrias sepultadas em nossa história mostram a inutilidade de seus túmulos, pessoas que se foram parecem ressuscitar com aquele canto e a dor e o flashes inconvenientes das crises existências e dos pensamentos escatológicos e negativos se instalam em nossas camas, deitam ao nosso lado, conversam com a gente e cantam também, cantam uma canção muito triste, a marcha fúnebre talvez... Prosélitas do mal, essas ideias embaladas pelo canto melancólico que ecoa por todos os cantos, convertem tudo ao redor para a doutrina do fim, da inutilidade e do lamento.

O cantar do galo traz os ares da tristeza, a marca de outros tempos, medos incertezas, dores, o terror da morte, o pavor do nunca mais e o despertar triste, mas ainda assim há beleza e encanto naquele cantar. A madrugada colorida de vermelho e amarelo carregada de belezas e promessas nada seria sem eles.

Vamos acordar!

MÚCIO ATAIDE

segunda-feira, 18 de março de 2024

O APITO

 Por muita  vezes ouvi o apito do trem nas madrugadas da  minha vizinha cidade de Divinópolis.

Naquela época final da década de 80 começa da de 90 existia um Múcio jovem cheio de vitalidade e vontade de viver. E uma das suas diversões preferidas era visitar a tia na cidade próxima. Era uma alegria lá estar. A casa simples, a comidinha gostosa o carinho da tia, o aconchego do lugar, tudo era encantador e comovente.

Além da casa tinha a cidade que por mim era endeusada. Como era bom ir até lá,  desfrutar das ruas, fazer compras, ir a bares, praças, cinemas, clubes, bailes  de todo o vigor  daquele pequeno e amado micro cosmo que nos finais de semana tinha ruas apinhadas de gente e a vida pulsava em cada avenida! A alegria e animação da juventude... Uma cabeça cheia de sonhos, e ávida por realizações, amores e prazer.  

E depois das noitadas e diversões já na cama o som grave que rasgava a madrugada assassinando seu silencio  e ecoando por cada canto.  

Certa madrugada  ao ser acordado pelo potente ruído, e dominado pelo movimento atrevido e até desagradável de ideias perniciosas  que também  buzinavam em minha mente, deixei-me levar por pensamentos melancólicos e escatológicos: “um dia tudo isso vai acabar, um dia talvez eu ouça esse apito, mas não tenha mais o aconchego dessa cama, a gostosura dessa casa, nem carregue mais comigo toda essa alegria jovial. Todo esse reduto de prazer vai virar fumaça. Talvez daqui há alguns anos eu aqui esteja, hospedado em um hotel e ouça esse apito e perceba que perdi tudo isso e então vai doer e vai doer muito.

O tempo passou e a previsão se cumpriu. Depois da morte dos meus tios, já bem mais velho, numa viagem àquela cidade dormindo em um hotel, acordo com o famigerado apito, e ali uma pequena alucinação aconteceu. A disposição dos móveis no quarto  do hotel era muita parecida com a do quarto  que dormia na casa de minha  tia. Uma cama de casal que ficava ao lado da porta  tendo bem a minha frente uma janela, na parte lateral um armário... Um quarto com as mesmas  paredes e teto brancos  que parecia muito com aquele. Então fui puxado do sono pelo conhecido apito e  por alguns segundo quando estava entre o sono e o despertar tive a nítida impressão de voltar àquele quarto. A cena aconteceu em um tom cinza num limbo entre sonho e realidade. E foi mágica.  Eu estava lá de novo, e havia o apito e havia todo aquele pulsar de alegria de outros tempos, e então nada havia acabado. A vida naquele momento ainda tinha a mesma poesia daquelas noites divinopolitanas da juventude, ainda era inundado pela força sem igual dos hormônios e pela vontade de viver e abraçar a vida em toda a sua plenitude.  Fui acordando devagar  e demorei um pouco para entender. Quando a ficha caiu, eu me lembrei daquela noite e daquele estranho pensamento. Minha mente conduziu-me até ali, fez cumprir a profecia daquela madrugada de tantos anos.

E o apito continuou rasgando a madrugada e a minha alma, seu silvo grave penetrante parecia pronunciar em tom áspero e desesperador a frase:  -Nunca mais...

Então doeu, doeu como eu previ que doeria. É triste ver as referências, os prazeres, as coisas que marcaram a vida da gente virarem fumaça de trem se esvaindo pelo ar ao som de um apito triste.

É como se o apito do trem da vida estivesse sempre nos avisando que estamos perdendo muitas coisas pelo caminho.

Piuiiiii.

 

sexta-feira, 15 de março de 2024

LIVRO DEIXA EU COMPLETAR - SEGUNDA EDIÇÃO

 Bom dia !

Estou fazendo PRÉ-VENDA DO LIVRO “DEIXA EU COMPLETAR” 2ª edição
O Valor é R$ 39,90.
Quem quiser adquirir antecipado pode fazer o pagamento através do pix chave: mucioataideart@gmail.com
Ou entre em contato pelo fone (37) 99826-7396 (whatsapp)
Favor passar o comprovante do pix para o mesmo whatsapp.
Segunda edição do Livro "Deixa eu Completar" Histórias sobre meu pai e outras mais. Reflexões, crônicas, os causos do velho, histórias curiosas e divertidas.
Novos textos, nova capa, nova diagramação.
Com o trabalho primoroso dos profissionais da Editora Literatura em Cena e o talento de Ricardo Welbert no desenho de capa.

SENDAS MUITAS

 Entre o torpor e a consciência

Entre o sono e o alerta

A mente faz os seus caminhos

Toda clara e aberta

Suas sendas são muitas

Brs, trilhas, veredas,  savanas

Entre pedras e paus

Entre o bem e o mal

Estrada tortuosa ou plana

sexta-feira, 8 de março de 2024

COISAS BOAS COISAS VÃS

A mesma coisa

tudo se repete

o misto de raiva

medos e alegrias 

e sonhos

brota de novo

se esconde 

se expande.

tudo vai e vem

como é isso?

quem plantou isso?

quem inventou

como pode ter

algo tão estranho

e impreciso 

a mente

essa deusa

vilã

que coisa 

ditar-me

coisas boas

coisas vãs


 Neste site,  um pouco da carreira literária de Múcio Ataide, seguindo o caminho das letras para  brindar a vida e descobrir seus encantos e...