Timidez e introversão, a eterna dúvida. Introversão é um assunto controverso. E muitas pessoas confundem com timidez. Mas na verdade são duas coisas distintas embora os comportamentos muitas vezes possam ser semelhantes. Um tímido pode ser também introvertido, mas a introversão é mais um traço de personalidade e a timidez está mais relacionada ao medo. A timidez quase sempre é adquirida, produto de algum trauma ou algum acontecimento marcante que levou a pessoa a ter receio do contato com os outros. A introversão é a maneira de ver o mundo. Introversão é jeito de ser.
Durante muito tempo me senti mal
por ser introvertido justamente por não saber fazer essa diferença. Quis
combater algo que era parte de mim, traço da minha personalidade e que não
deveria ser combatido jamais. Porque é muito difícil você lutar contra o seu próprio
jeito de ser. Temos traços naturais que devem ser respeitados e mais que isso, usados
a nosso favor. Existem nesses traços qualidades que devem ser exaltadas e valorizadas.
Isso é muito importante. Quando aprendemos a respeitar nosso jeito de ser e usa-lo
a nosso favor as somos muito mais felizes e realizados. Lutar contra o seu
jeito de ser é remar contra a maré, tentar tapar o sol com a peneira, etc... Poderia
usar mil clichês, mas a verdade é que negar seu jeito de ser é ir contra você mesmo. O melhor caminho é
aceitar-se como é. E foi o que eu fiz depois de muitos anos de sofrimento e
insatisfação comigo mesmo.
Mas a vida é assim, a gente vai
aprendendo a medida que as coisas vão acontecendo vamos tirando conclusões daqui e dali. Eu
aprendi aos poucos a me aceitar do jeito que sou.
Em 2013 conheci a obra o Poder do Quietos de Susan
Cain. O livro faz uma análise profunda sobre a introversão e suas
características. Ali pude conhecer alguns conceitos específicos, bem como saber
de experiências feitas na área e
conclusões a que elas chegaram. Uma dessas experiências foram feitas por kagan
com crianças altamente sensíveis. Ele provou que antes d qualquer influencia do
meio social algumas crianças são naturalmente mais sensíveis e reagem de forma
mais aguçada a estímulos externos. Após
conhecer mais sobre o assunto pude
perceber que uma grande parte do meu comportamento que eu considerava defeito
na verdade era apenas traço de personalidade. Eu não deveria me condenar por
ser como sou. O livro exalta o valor da personalidade introvertida que no nosso
mundo ocidental sempre foi visto com maus olhos. Por aqui a exigência é ser
comunicativo falante, como se isso fosse
garantia de sucesso e prova de inteligência e vivacidade. Susan ressalta também a velha guerra entre os
descolados e nerds onde um comportamento é tido como saudável proveitoso e o
outro como uma negação, algo a ser execrado e banido. O livro mudou o meu
conceito e me fez entender que cada um é de um jeito e não temos que nos
adequar às exigências do meio social. No mundo oriental é o contrário o introvertido é visto como introspectivo
pensador e valorizado. Seu jeito é aceito e até admirado por todos. Questões culturais à parte o importante é
sermos nós mesmos sem culpas ou receios.
No livro a autora descreve
algumas características do introvertido. São elas: gostar de voltar-se para
dentro, isso remonta a Carl Young que elaborou a teoria das personalidades e
nessa teoria ele afirma que o introvertido tem o movimento de fora para dentro,
como se ele pegasse o mundo fora de si e o trouxesse pra dentro enquanto o
extrovertido tem o mundo de dentro para fora. O introvertido interioriza o
mundo fora de si, o extrovertido exterioriza o mundo dentro de si. O
introvertido tem a tendência para meditar
pensar, refletir muito sobre as coisas.
Não gosta de aglomeração. Se sente cansado depois de um longo colóquio. Isso
lembra também a curiosa teoria das baterias. Uma comparação feita entre a energia interna de cada pessoa e as baterias
dos celulares. Uma analogia que está bem focada na nossa realidade
digital. O extrovertido quando está só sente
sua energia interna fraca, então precisa de movimento, de estar em um grupo,
falar, jogar para fora o que sente para
recarregar suas energias. O introvertido ao contrario sente sua energia minar
na presença de muitas pessoas e muito
agito, então precisa de momentos a sós para fazer a recarga.
Introvertidos gostam de solidão,
de ler, de meditar, de conversas intimas e profundas. Não curtem falar de
trivialidades nem fazer fofocas. Tudo o que ouve o faz refletir. Em poucos
segundos interioriza a fala e tira dela mil conclusões. Nunca fica numa coisa
só, não tem aquela opinião formada e nem verdades absolutas. Quando ouve alguma
coisa precisa mastigar aquilo dentro de si comentar somente quando tiver certeza,
portanto é compreensível que seja assim tão fechado. Ele vive um mundo interno
vibrante, uma mente movimentada, embora
pareça que tudo está sempre calmo dentro de si.
O livro trata de vários assuntos
relacionados e poderia destacar algumas coisas que além dessas citadas nos paragrafas anteriores
também me chamaram a atenção, como por exemplo a teoria do traço livre, onde
uma pessoa por necessidade ou por um objetivo especifico pode agir fora do seu
traço natural de personalidade. Apesar de a autora ressaltar certa resistência
que temos a isso por questões filosóficas intrínsecas demonstra através de
diversos exemplos que realmente é
possível um introvertido por exemplo, agir por alguns minutos como extrovertido
e até enganar a muitos. O que me faz pensar que temos dentro de nós uma
diversidade de conhecimentos sobre a natureza humana. Somos um pouco de cada
coisa e por que não usar isso a nosso favor?
Aprendi que reagimos por medo
quando o lado mais primitivo do nosso cérebro a amigdala nos dita regras e
conceitos, reage trazendo o medo diante
de diversas situações quando os
acontecimentos acionam gatilhos mentais associados a coisas negativas já
vividas. E que temos o outro lado, o lado evoluído, racional o córtex pré-frontal,
através deles podemos direcionar de forma consciente e racional nossas ações e superar algumas situações difíceis.
O velho e batido conceito da nossa ancestralidade e seus aparatos de fuga e
enfrentamento da realidade, sendo a nós oferecidos através da fantástica
máquina que é o nosso cérebro.
Poderia ficar aqui falando dias e
dias sobre as preciosidades do livro, mas prefiro que leiam e possam assim nos conhecer um pouco mais.
Conhecer a si mesmo é uma grande
aventura
Espero que as pessoas com o tempo
e através de obras maravilhosas como essa, consigam entender mais os
introvertidos. Que aos poucos sejamos mais aceitos e acolhidos, pois fazemos
parte desse todo que é a diversidade humana e qualquer classificação negativa
se dá pela ignorância e pela nefasta cultura ocidental que não consegue
entender nosso jeito de ser. Temos nosso valor. Cada ser humano é um universo, uma unidade
humana independente que não pode ser
comparada com nenhuma outra. As características da personalidade devem
ser vistas não como certas ou erradas, mas como únicas e que de uma forma ou de
outra contribuem para o todo. Temos grandes extrovertidos na historia e grandes
introvertidos também. Não existe uma fórmula certa nem errada de ser, cada um
com seu jeito pode fazer a diferença no mundo. E
essa mania que temos de ficar julgando e classificando tudo é o que
atrapalha. A diversidade é o que dá colorido ao mundo. Se todos fossem iguais,
que graça teria? Sendo assim o
introvertido tem seu lugar e pode conviver sem culpas nem restrições.
Já tive vergonha, mas hoje tenho
orgulho em ser um introvertido.
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