sexta-feira, 28 de maio de 2021

PANDEMÔNIO DA PANDEMIA

Autoria Múcio Ataide  

Fico a refletir sobre as mudanças que aconteceram nos últimos tempos com a chegada do tal corona. Os valores, as intenções, os costumes. Tudo está diferente.

Antigamente quando sentíamos algum sintoma como bambeza, coriza, temperatura do corpo elevada, algo  sinalizando que uma gripe batia às portas dizíamos: tomara que não seja gripe. Agora diante do mesmo quadro físico dizemos: tomara que seja gripe.

Antigamente se alguém fosse até um banco por motivo de doença usando uma máscara no rosto seria barrado pelo segurança com a suspeita de que fosse um assaltante. Agora a pessoa é barrada se não tiver usando máscara.  Tudo está invertido o que era errado agora é certo. O que era certo agora é errado e talvez  que o que é certo hoje  volte a ser errado amanhã  e vice e versa e versa e vice...

Por falar nisso até os assaltos diminuíram parece que os assaltantes têm medo de aglomerações de bancos e casas lotéricas. E para assaltar os pobres indivíduos andando só pela rua também está difícil. Lembrei-me agora da música o dia em que  a Terra parou do Raul Seixas, a ficção de uma letra de música era na verdade uma profecia, e deveria ter sido levada a sério pois foi feita por alguém que nasceu ha mais de dez mil anos atrás. Mas voltando ao assunto os assaltos diminuíram, nem bombinhas nos caixas eletrônicos explodem mais. E para onde foi aquela estranha e suspeita onda de violência de 2018? Será que o vírus levou?

Nós introvertidos, tímidos,  os chamados nerds éramos execrados porque ficávamos muito tempo em casa. Imagina que absurdo  ficar em casa num sábado à noite. Hoje o bobo inconsequente é o que sai. Tudo ao contrário.  O padrão de comportamento aceito como certo e eficaz no mundo  ocidental por muitos anos  foi o dos extrovertidos, agora não é mais. As pessoas estão adotando o padrão introvertido e acho que até gostando dele. Chegou a  nossa vez! O modo introvertido de ser tão criticado agora é abraçado por todos. Antes era esperto quem saía, hoje é esperto quem não sai.  O bobo tornou-se esperto e o esperto virou bobo.

Antigamente o que nos assustava era o mosquito da dengue, agora coitado foi deixado para trás, ninguém nem fala mais dele. Como se fosse uma parada de sucesso o vírus  chegou com seus hits  e tomou conta do pedaço. É o sucesso do momento.  Pobre mosquitinho nem pensa mais em picar ninguém. Deve estar mergulhado nas drogas e na bebida se acabando aos poucos com o fracasso  pensando até em cometer suicídio picando alguém contaminado pelo corona. Não se ouve mais falar dele. É como se sumisse do nada. Pobrezinho.

Tudo é covid. Qualquer sintoma de doença hoje em dia e a pessoa já fica apavorada pensando que está com o famigerado vírus agindo dentro de si. As outras doenças, parece que resolveram dar uma trégua. Fizeram greve porque ninguém liga para elas.  Ninguém morre mais do coração. Não se tem mais parada cardíaca. O infarto está de férias. A insuficiência renal não é mais suficiente. O enfisema saiu do esquema,  No caso de falência dos órgãos, os falidos pediram concordata.   O derrame do cérebro parou de derramar. O aneurisma passou a ver as coisas por outro prisma.   O pulso ainda pulsa e deixará de pulsar somente quando a covid chegar. Fizeram greve por serem desvalorizadas.  As doenças descansam ninguém ouve mais falar que se adoeceu ou se morreu de outras coisas só de covid. O vírus brilha absoluto no palco dos leitos hospitalares e todos os holofotes são para ele.

Os decretos do isolamento me fazem questionar uma coisa interessante o direito de ir e vir, antes você tinha o direito constitucional de ir e vir agora você tem o direito apenas de ficar. De não ir. Não estou criticando os decretos acho importante o isolamento, mas fico tentando entender as contradições dessa vida.  Tudo volúvel. Hoje temos um direito, amanhã por uma simples canetada não temos mais. Porque toda a nossa vida depende das canetadas e dos caprichos da natureza que cria um ser minúsculo, poderoso capaz de mudar todas as nossas vidas.

No hospício da conspiração já ouvi falar de tudo.  Vacina criada por comunistas da china. Um chip que existe no plasma da vacina para dominar as mentes. O vírus é a sétima trombeta do apocalipse. O vírus foi criado pelos Estados Unidos para combater o terrorismo. Está previsto la na Bíblia. O mundo acabou e nós somos as almas que ficamos no purgatório para cumprir nossas penas. O vírus não existe, mas eu tenho um remédio ótimo para combatê-lo. Uma nova ordem mundial está chegando e o vírus veio para destruir o que é velho e trazer o começo de uma nova era. E blá, blá, blá...

Um remédio totalmente desconhecido tornou-se de repente um remédio milagroso  e um remédio inócuo. A cloroquina é amada e odiada. E muitos que a defendem ferrenhamente não têm nenhum conhecimento do assunto e nunca ouviram falar dela. E os que são contra também. Ninguém sabe nada, mas todos estão certos.

Fora a polarização política e ideologia da doença. Cada um puxa para o seu lado.  Vírus doença, OMS, remédios, tratamentos tudo isso é jogado de lá para cá numa ciranda de acusações e de fake-news que complicam ainda mais as coisas. Parece até aquela brincadeira do cabo de guerra onde um puxa para um lado e o outro para o outro.

Um pandemônio na pandemia. Uma bagunça de teorias, dicas regras, procedimentos. Isola não isola. Precisamos salvar a economia por isso não pode haver fechamento. Se não houver o fechamento todos morrerão.  Use álcool, use máscaras, não faz assim não faz assado. Esse remédio é bom aquele não é. Beba muita água.  Isso é castigo de Deus. Por que os             chineses comem sapo. Cloroquina droga fina, Ivermectina nos meninos e nas meninas.   A vacina vai salvar. A vacina faz virar jacaré.  Vai comprar a vacina, não vai comprar. Acabaram-se as doses.  O  que é recomendado o que não é. O caos está montado. Bombardeio de informações.  Uma onda de medo e incerteza tomou conta do mundo. Tudo de cabeça para baixo.

 

Um pequeno ser microscópico conseguiu mudar todo o nosso comportamento. Pôs o certo e o errado de cabeça para baixo. De quantas coisas precisávamos e agora não precisamos mais? O que era imprescindível deixou de ser. O que não se podia fazer agora se pode. O que  era errado virou certo e o certo errado. Mudou valores, mudou parâmetros, nos fez dar menor ou maior importância a muitas coisas da vida. Reduziu a nada coisas que eram até assustadoras. Talvez nos tenha mostrado o quanto criávamos problemas do nada e sofríamos por coisas sem importância.  Esse pilantrinha nos fez refletir o quanto nada sabemos e o quanto somos frágeis diante da natureza e de seus contínuos movimentos de evolução. Como de nada temos certeza. Segurança nenhuma. Talvez isso venha quebrar alguns topetes por aí, fazer descer por terra uma carga de arrogância e refletir sobre a falsa segurança que colocamos nas coisas efêmeras dessa vida.  De nada temos certeza, tudo pode mudar ou acabar num instante. Basta um ser microscópico, invisível sem uma nesga de racionalidade atacar-nos. Pronto lá está o gigante racional poderoso e perfeito destruído.

Mas nos levantaremos e esse pandemônio da pandemia vai passar.

 


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