Autoria Múcio Ataide
Fico a refletir sobre as mudanças que aconteceram nos últimos tempos com a chegada do tal corona. Os valores, as intenções, os costumes. Tudo está diferente.
Antigamente quando
sentíamos algum sintoma como bambeza, coriza, temperatura do corpo elevada,
algo sinalizando que uma gripe batia às
portas dizíamos: tomara que não seja gripe. Agora diante do mesmo quadro físico
dizemos: tomara que seja gripe.
Antigamente se
alguém fosse até um banco por motivo de doença usando uma máscara no rosto seria
barrado pelo segurança com a suspeita de que fosse um assaltante. Agora a
pessoa é barrada se não tiver usando máscara. Tudo está invertido o que era errado agora é
certo. O que era certo agora é errado e talvez que o que é certo hoje volte a ser errado amanhã e vice e versa e versa e vice...
Por falar
nisso até os assaltos diminuíram parece que os assaltantes têm medo de
aglomerações de bancos e casas lotéricas. E para assaltar os pobres indivíduos
andando só pela rua também está difícil. Lembrei-me agora da música o dia em
que a Terra parou do Raul Seixas, a
ficção de uma letra de música era na verdade uma profecia, e deveria ter sido
levada a sério pois foi feita por alguém que nasceu ha mais de dez mil anos
atrás. Mas voltando ao assunto os assaltos diminuíram, nem bombinhas nos caixas
eletrônicos explodem mais. E para onde foi aquela estranha e suspeita onda de
violência de 2018? Será que o vírus levou?
Nós
introvertidos, tímidos, os chamados
nerds éramos execrados porque ficávamos muito tempo em casa. Imagina que
absurdo ficar em casa num sábado à
noite. Hoje o bobo inconsequente é o que sai. Tudo ao contrário. O padrão de comportamento aceito como certo e
eficaz no mundo ocidental por muitos
anos foi o dos extrovertidos, agora não
é mais. As pessoas estão adotando o padrão introvertido e acho que até gostando
dele. Chegou a nossa vez! O modo
introvertido de ser tão criticado agora é abraçado por todos. Antes era esperto
quem saía, hoje é esperto quem não sai. O
bobo tornou-se esperto e o esperto virou bobo.
Antigamente o
que nos assustava era o mosquito da dengue, agora coitado foi deixado para trás,
ninguém nem fala mais dele. Como se fosse uma parada de sucesso o vírus chegou com seus hits e tomou conta do pedaço. É o sucesso do
momento. Pobre mosquitinho nem pensa
mais em picar ninguém. Deve estar mergulhado nas drogas e na bebida se acabando
aos poucos com o fracasso pensando até em
cometer suicídio picando alguém contaminado pelo corona. Não se ouve mais falar
dele. É como se sumisse do nada. Pobrezinho.
Tudo é covid.
Qualquer sintoma de doença hoje em dia e a pessoa já fica apavorada pensando
que está com o famigerado vírus agindo dentro de si. As outras doenças, parece
que resolveram dar uma trégua. Fizeram greve porque ninguém liga para elas. Ninguém morre mais do coração. Não se tem mais
parada cardíaca. O infarto está de férias. A insuficiência renal não é mais
suficiente. O enfisema saiu do esquema, No
caso de falência dos órgãos, os falidos pediram concordata. O
derrame do cérebro parou de derramar. O aneurisma passou a ver as coisas por
outro prisma. O pulso ainda pulsa e deixará de pulsar
somente quando a covid chegar. Fizeram greve por serem desvalorizadas. As doenças descansam ninguém ouve mais falar
que se adoeceu ou se morreu de outras coisas só de covid. O vírus brilha
absoluto no palco dos leitos hospitalares e todos os holofotes são para ele.
Os decretos do
isolamento me fazem questionar uma coisa interessante o direito de ir e vir,
antes você tinha o direito constitucional de ir e vir agora você tem o direito
apenas de ficar. De não ir. Não estou criticando os decretos acho importante o
isolamento, mas fico tentando entender as contradições dessa vida. Tudo volúvel. Hoje temos um direito, amanhã
por uma simples canetada não temos mais. Porque toda a nossa vida depende das
canetadas e dos caprichos da natureza que cria um ser minúsculo, poderoso capaz
de mudar todas as nossas vidas.
No hospício da
conspiração já ouvi falar de tudo. Vacina criada por comunistas da china. Um chip
que existe no plasma da vacina para dominar as mentes. O vírus é a sétima
trombeta do apocalipse. O vírus foi criado pelos Estados Unidos para combater o
terrorismo. Está previsto la na Bíblia. O mundo acabou e nós somos as almas que
ficamos no purgatório para cumprir nossas penas. O vírus não existe, mas eu
tenho um remédio ótimo para combatê-lo. Uma nova ordem mundial está chegando e
o vírus veio para destruir o que é velho e trazer o começo de uma nova era. E
blá, blá, blá...
Um remédio
totalmente desconhecido tornou-se de repente um remédio milagroso e um remédio inócuo. A cloroquina é amada e
odiada. E muitos que a defendem ferrenhamente não têm nenhum conhecimento do
assunto e nunca ouviram falar dela. E os que são contra também. Ninguém sabe
nada, mas todos estão certos.
Fora a
polarização política e ideologia da doença. Cada um puxa para o seu lado. Vírus doença, OMS, remédios, tratamentos tudo
isso é jogado de lá para cá numa ciranda de acusações e de fake-news que
complicam ainda mais as coisas. Parece até aquela brincadeira do cabo de guerra
onde um puxa para um lado e o outro para o outro.
Um pandemônio na
pandemia. Uma bagunça de teorias, dicas regras, procedimentos. Isola não isola.
Precisamos salvar a economia por isso não pode haver fechamento. Se não houver
o fechamento todos morrerão. Use álcool,
use máscaras, não faz assim não faz assado. Esse remédio é bom aquele não é.
Beba muita água. Isso é castigo de Deus.
Por que os chineses comem
sapo. Cloroquina droga fina, Ivermectina nos meninos e nas meninas. A
vacina vai salvar. A vacina faz virar jacaré. Vai comprar a vacina, não vai comprar.
Acabaram-se as doses. O que é recomendado o que não é. O caos está
montado. Bombardeio de informações. Uma
onda de medo e incerteza tomou conta do mundo. Tudo de cabeça para baixo.
Um pequeno ser
microscópico conseguiu mudar todo o nosso comportamento. Pôs o certo e o errado
de cabeça para baixo. De quantas coisas precisávamos e agora não precisamos
mais? O que era imprescindível deixou de ser. O que não se podia fazer agora se
pode. O que era errado virou certo e o
certo errado. Mudou valores, mudou parâmetros, nos fez dar menor ou maior importância
a muitas coisas da vida. Reduziu a nada coisas que eram até assustadoras.
Talvez nos tenha mostrado o quanto criávamos problemas do nada e sofríamos por
coisas sem importância. Esse pilantrinha
nos fez refletir o quanto nada sabemos e o quanto somos frágeis diante da
natureza e de seus contínuos movimentos de evolução. Como de nada temos
certeza. Segurança nenhuma. Talvez isso venha quebrar alguns topetes por aí,
fazer descer por terra uma carga de arrogância e refletir sobre a falsa
segurança que colocamos nas coisas efêmeras dessa vida. De nada temos certeza, tudo pode mudar ou
acabar num instante. Basta um ser microscópico, invisível sem uma nesga de
racionalidade atacar-nos. Pronto lá está o gigante racional poderoso e perfeito
destruído.
Mas nos
levantaremos e esse pandemônio da pandemia vai passar.
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