terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

 

                                                                                  Foto: William Santiago

OLHARES

 

Muitas possibilidades num único clique: Uma varanda, uma belíssima igreja, uma mulher que olha sem olhar para o tempo, uma cena congelada. Uma boa ideia advinha da sensibilidade e de um olhar apurado para os devaneios do existir. A força da tecnologia. Fantasia ou realidade.  A magia de um momento aprisionado na memória, mesmo que artificial e magistralmente  eternizado.

O que essa imagem provoca em quem a contempla?

Permito-me divagar sobre a cena e descobrir seus meneios e suas possiblidades

Posso ver  ali o olhar do oprimido diante do opressor. A imponência da igreja e do papel passivo  desta instituição tão poderosa  diante de séculos de atrocidades  e de dominações injustas. Estaria a mulher negra à janela refletindo sobre isso? Volvendo seu olhar de raiva e revolta? Os dois extemos da história da humanidade. As instituições que sempre existiram e sempre existirão: o dominador e o dominado.  Seria o oprimido diante do opressor sentindo a angustia e os pesares que as opressões causaram?

Ou talvez seja algo mais leve e bucólico. Apenas a mulher que olha a vida da cidade passar. Talvez espere o namorado dobrar a esquina, se espantando um pouco com o agito da pequena cidade  que já é mais tão pacata  como antigamente.  Talvez traga dentro de si a tranquilidade de quem está de bem com a vida, olhando para tudo sem muito compromisso, apenas olha a vida acontecer e espera  por algo bom.

Mas quem é ela, o que pensa, o que sente? Opa espera! Tem algo diferente com aquela mulher. Não, não é uma mulher é uma boneca, não  apenas por ser linda, mas porque é uma boneca mesmo. Então não é gente?  É algo artificial criado pelo homem? Mas  tem gente que para e conversa com ela. Então é apenas uma fantasia, uma imagem arranjada pela sensibilidade do fotografo. As imagens mentem, os conceitos mentem. O que é  a realidade e o que é  a fantasia nesta vida?

Quem tirou aquela foto, de onde veio e para onde vai? O que pensava no momento do clique? Talvez lhe ocorreu um  insight mágico, tirar a foto de modo a sugerir mil possiblidades. Uma mulher que olha para a cidade, para a vida, para o existir e saboreia com calma as coisas. Será que foi isso que o fotógrafo pensou? A quem provocou com essa foto?

Será que olhou para a cidade também e  refletiu sobre tudo o que eu acontecia? Quem passava pela rua quais os pensamentos e sentimentos carregavam consigo? Seria ele um antigo morador que visitava a cidade depois de rondar o mundo colhendo vivências? Seria um homem descansando de uma vida cigana e nômade em sua terra?

E quem passava lá em baixo o que pensava sobre aquela mulher da sacada?

Ah por quantas sendas uma simples foto conduz o pensamento! Quantos questionamentos e conexões neurais pode  ativar!  O que ela não é capaz de provocar numa mente  divagante e sonhadora  de quem se deixa levar pela imaginação!

Quantas possibilidades!

Vai ver era só uma foto e nada mais. 

*** 

(ABAIXO O TEXTO NA VERSÃO POEMA)


O OLHAR DA JANELA 


A “moça” da janela

Tranquila "olha" para cidade 

O que na realidade

Pensa ou “não pensa” ela?


“Vê” o templo imponente

A oprimida diante do opressor

Numa  história de horror 

Injusta e inclemente


"contempla" a cidade calma

Acena com a “palma”

Procura namorado?


Realidade ou fantasia?

Quem a clicou sabia

Que o pensamento é alado.


                                                                                  Foto: William Santiago

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