Foto: William Santiago
OLHARES
Muitas possibilidades num único
clique: Uma varanda, uma belíssima igreja, uma mulher que olha sem olhar para o
tempo, uma cena congelada. Uma boa ideia advinha da sensibilidade e de um olhar
apurado para os devaneios do existir. A força da tecnologia. Fantasia ou
realidade. A magia de um momento
aprisionado na memória, mesmo que artificial e magistralmente eternizado.
O que essa imagem provoca em quem
a contempla?
Permito-me divagar sobre a cena e
descobrir seus meneios e suas possiblidades
Posso ver ali o olhar do oprimido diante do opressor. A
imponência da igreja e do papel passivo
desta instituição tão poderosa
diante de séculos de atrocidades
e de dominações injustas. Estaria a mulher negra à janela refletindo
sobre isso? Volvendo seu olhar de raiva e revolta? Os dois extemos da história
da humanidade. As instituições que sempre existiram e sempre existirão: o
dominador e o dominado. Seria o oprimido
diante do opressor sentindo a angustia e os pesares que as opressões causaram?
Ou talvez seja algo mais leve e
bucólico. Apenas a mulher que olha a vida da cidade passar. Talvez espere o
namorado dobrar a esquina, se espantando um pouco com o agito da pequena
cidade que já é mais tão pacata como antigamente. Talvez traga dentro de si a tranquilidade de
quem está de bem com a vida, olhando para tudo sem muito compromisso, apenas
olha a vida acontecer e espera por algo
bom.
Mas quem é ela, o que pensa, o
que sente? Opa espera! Tem algo diferente com aquela mulher. Não, não é uma
mulher é uma boneca, não apenas por ser
linda, mas porque é uma boneca mesmo. Então não é gente? É algo artificial criado pelo homem? Mas tem gente que para e conversa com ela. Então
é apenas uma fantasia, uma imagem arranjada pela sensibilidade do fotografo.
As imagens mentem, os conceitos mentem. O que é a realidade e o que é a fantasia
nesta vida?
Quem tirou aquela foto, de onde
veio e para onde vai? O que pensava no momento do clique? Talvez lhe ocorreu um
insight mágico, tirar a foto de modo a
sugerir mil possiblidades. Uma mulher que olha para a cidade, para a vida, para
o existir e saboreia com calma as coisas. Será que foi isso que o fotógrafo
pensou? A quem provocou com essa foto?
Será que olhou para a cidade
também e refletiu sobre tudo o que eu
acontecia? Quem passava pela rua quais os pensamentos e sentimentos carregavam
consigo? Seria ele um antigo morador que visitava a cidade depois de rondar o
mundo colhendo vivências? Seria um homem descansando de uma vida cigana e
nômade em sua terra?
E quem passava lá em baixo o que
pensava sobre aquela mulher da sacada?
Ah por quantas sendas uma simples
foto conduz o pensamento! Quantos questionamentos e conexões neurais pode ativar! O que ela não é capaz de provocar numa mente divagante e sonhadora de quem se deixa levar pela imaginação!
Quantas possibilidades!
Vai ver era só uma foto e nada
mais.
***
(ABAIXO O TEXTO NA VERSÃO POEMA)
O OLHAR DA JANELA
A “moça” da janela
Tranquila "olha" para cidade
O que na realidade
Pensa ou “não pensa” ela?
“Vê” o templo imponente
A oprimida diante do opressor
Numa história de horror
Injusta e inclemente
"contempla" a cidade calma
Acena com a “palma”
Procura namorado?
Realidade ou fantasia?
Quem a clicou sabia
Que o pensamento é alado.
Foto: William Santiago
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