Quem era aquele homem? O que trazia em suas mãos?
...Estava envolvido por uma gigantesca onda de grandeza e ao mesmo tempo de pequenez. Eu me sentia extremamente pequeno diante de tudo aquilo, mas sentia a grandeza desse mosaico de milagres, do qual eu faço parte e do qual sou uma parte ínfima.
A grandiosidade das potestades do céu, os elementos
se misturando num show de rara beleza, a majestade dos astros e sistemas
celestes... Por sentir tão de perto tudo isso, eu me percebi extremamente
pequeno diante dessa magnitude. Sou um ínfimo observador, uma poeirinha cósmica
insignificante. E o que tem além de todas essas estrelas e de todo esse brilho?
Se muitas dessas estrelas que vejo já morreram, estou vendo algo que aconteceu
a milhões de anos luz. A velocidade da luz é tão
intensa, que traz até mim, uma imagem do passado. Vejo estrelas que já
morreram. Estou vendo algo que não existe mais. Uma mentira, uma ilusão, ou a
certeza da minha própria pequenez.
Minha câmera transportou-me pelo espaço e,
parafraseando Camões, vi mares nunca dantes navegados. Voei, na magia e
voltei, concentrei-me no nosso sistema, sistema solar. Penetrei em seus
labirintos, formado pelos seus planetas e vi satélites e milhares de asteroides
e cometas, tudo bem de perto. Não era apenas a lente, mas eu estava lá. Viajava
pelo espaço. Vi cores e rajadas de fogo pelo ar. Vi o sol que me traz em todas
as manhãs, o seu calor aconchegante. O mesmo sol que enxuga o orvalho das
plantas e espalha vida por onde passa. Vi os
planetas bem de perto, girando igual num carrossel diante do sol e me espantei
por pensar que não caem! É incrível, mas não caem! Fazem parte de um bailado
muito especial dos céus, e dançam num ritmo perfeito. Mercúrio, Vênus, Marte,
Júpiter, Saturno, Urano, Netuno, com seus inúmeros satélites naturais,
asteroides, cometas, meteoritos... Senti até mesmo a textura da poeira
interplanetária.
Onde começa e termina tudo isso? Até onde vai
aquele enorme vão, sustentado por nada e ao mesmo tempo sustentando tudo?
***
A luz bruxuleante ia ganhando forma e aumentando
gradativamente. Os pássaros da manhã acordavam e passavam em bando sobre a
janela. Os galos cantavam e conversavam cantando, um respondendo ao outro. O
escuro ia cedendo lugar a plantas e outras coisas mais que então, eram
impossíveis de serem vistas. A luz chegava aos pouquinhos, ia fazendo a vida
despertar numa metamorfose estonteante. Os primeiros raios do sol doíam em meus
olhos, mas traziam a luz e o calor. Tudo ia mudando, tudo ganhando cor e vida. O
dia chegou e estava novamente me oferecendo um enorme espetáculo. A natureza
mestra fazia sua obra como sempre, com um primor indescritível. Laborava seus
feitos com extremo esmero e perfeição.
Voei para
longe, vi mil belezas além daquele horizonte vermelho. Beleza na flor, na
folha, no pássaro, no verde na mata. E a câmera como sempre foi além, me
aproximou de um ninho onde vi filhotes de pássaros sendo alimentados por sua
mãe
***
Sem dizer nada segui meu caminho. Dei alguns
passos, olhei para o céu e a vi. Lá estava ela, a enorme bola vermelha
navegando na imensidão. Derramava beleza e magia. Mais uma vez me extasiava com a magnitude e a
perfeição desse universo sem fim. Lua de
sangue, dos mistérios e dos encantos. Tudo fazia sentido, pois, aquela era uma NOITE DE ECLÍPSE.
Voltei para casa, fui até meu pequeno bar, peguei
uma dose de uísque, sorvi suavemente o líquido, sentei-me em frente ao
computador, liguei a máquina, abri um arquivo do Microsoft Word, soltei uma
gargalhada de contentamento e comecei a digitar a frase:
Hoje eu estou aqui escrevendo sobre algo
extraordinário que me aconteceu...
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