quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

TRECHOS DO LIVRO NOITE DE ECLIPSE

Quem era aquele homem? O que trazia em suas mãos? 

...Estava envolvido por uma gigantesca onda de grandeza e ao mesmo tempo de pequenez. Eu me sentia extremamente pequeno diante de tudo aquilo, mas sentia a grandeza desse mosaico de milagres, do qual eu faço parte e do qual sou uma parte ínfima.

A grandiosidade das potestades do céu, os elementos se misturando num show de rara beleza, a majestade dos astros e sistemas celestes... Por sentir tão de perto tudo isso, eu me percebi extremamente pequeno diante dessa magnitude. Sou um ínfimo observador, uma poeirinha cósmica insignificante. E o que tem além de todas essas estrelas e de todo esse brilho? Se muitas dessas estrelas que vejo já morreram, estou vendo algo que aconteceu a milhões de anos luz. A velocidade da luz é tão intensa, que traz até mim, uma imagem do passado. Vejo estrelas que já morreram. Estou vendo algo que não existe mais. Uma mentira, uma ilusão, ou a certeza da minha própria pequenez.

Minha câmera transportou-me pelo espaço e, parafraseando Camões, vi mares nunca dantes navegados.  Voei, na magia e voltei, concentrei-me no nosso sistema, sistema solar. Penetrei em seus labirintos, formado pelos seus planetas e vi satélites e milhares de asteroides e cometas, tudo bem de perto. Não era apenas a lente, mas eu estava lá. Viajava pelo espaço. Vi cores e rajadas de fogo pelo ar. Vi o sol que me traz em todas as manhãs, o seu calor aconchegante. O mesmo sol que enxuga o orvalho das plantas e espalha vida por onde passa. Vi os planetas bem de perto, girando igual num carrossel diante do sol e me espantei por pensar que não caem! É incrível, mas não caem! Fazem parte de um bailado muito especial dos céus, e dançam num ritmo perfeito. Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter, Saturno, Urano, Netuno, com seus inúmeros satélites naturais, asteroides, cometas, meteoritos...  Senti até mesmo a textura da poeira interplanetária.

Onde começa e termina tudo isso? Até onde vai aquele enorme vão, sustentado por nada e ao mesmo tempo sustentando tudo?

 

***

A luz bruxuleante ia ganhando forma e aumentando gradativamente. Os pássaros da manhã acordavam e passavam em bando sobre a janela. Os galos cantavam e conversavam cantando, um respondendo ao outro. O escuro ia cedendo lugar a plantas e outras coisas mais que então, eram impossíveis de serem vistas. A luz chegava aos pouquinhos, ia fazendo a vida despertar numa metamorfose estonteante. Os primeiros raios do sol doíam em meus olhos, mas traziam a luz e o calor. Tudo ia mudando, tudo ganhando cor e vida. O dia chegou e estava novamente me oferecendo um enorme espetáculo. A natureza mestra fazia sua obra como sempre, com um primor indescritível. Laborava seus feitos com extremo esmero e perfeição.

Voei para longe, vi mil belezas além daquele horizonte vermelho. Beleza na flor, na folha, no pássaro, no verde na mata. E a câmera como sempre foi além, me aproximou de um ninho onde vi filhotes de pássaros sendo alimentados por sua mãe

***

Sem dizer nada segui meu caminho. Dei alguns passos, olhei para o céu e a vi. Lá estava ela, a enorme bola vermelha navegando na imensidão. Derramava beleza e magia.  Mais uma vez me extasiava com a magnitude e a perfeição desse universo sem fim.  Lua de sangue, dos mistérios e dos encantos. Tudo fazia sentido, pois, aquela era uma  NOITE DE ECLÍPSE.

 

Voltei para casa, fui até meu pequeno bar, peguei uma dose de uísque, sorvi suavemente o líquido, sentei-me em frente ao computador, liguei a máquina, abri um arquivo do Microsoft Word, soltei uma gargalhada de contentamento e comecei a digitar a frase:

 

Hoje eu estou aqui escrevendo sobre algo extraordinário que me aconteceu...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

 Neste site,  um pouco da carreira literária de Múcio Ataide, seguindo o caminho das letras para  brindar a vida e descobrir seus encantos e...