Eu sou introvertido e gosto de
ficar em casa quieto e tranquilo. Incomoda-me
a futilidade do papo de certas pessoas que toma nosso tempo com conversas
prolixas sem nenhum conteúdo.
Sinto por muitas vezes a bateria descarregada e a
vontade me recolher para refazer minhas forças.
Pensando sobre esse aspecto
deveria eu adorar a pandemia, afinal de contas ela marca a nossa vez. É o
momento em que o jeito de ser introvertido ganha espaço. O mundo agora é
introvertido. As pessoas foram de certa forma obrigadas a assumir o nosso jeito
de ser. Estão agora em casa, mais quietas tendo que conviver com coisas que
para nós é comum. Acredito que algumas estão se descabelando porque não
conseguem viver sem os agitos, as festas, as rodas de conversas e os risos por
aí.
Quem sabe se assim vão aprender a
nos dar mais valor. A entenderem melhor o nosso jeito de ser.
No mês de março do ano passado,
meu patrão decidiu que ficaríamos parados durante um tempo. Em casa e apenas em casa. Por volta de um mês
o escritório onde trabalho não funcionou.
Então eis que alegria poder ficar
em casa lendo, escrevendo, fazendo as coisas que gosto sem compromisso. Foi muito
bom de início.
Mas ali a situação era diferente. Eu estava
sendo obrigado a ser introvertido. O meu modo de agir que para mim seria
natural tornou-se artificial e diminuiu aquela sensação gostosa do início. Tornou-se
sufocante. Acho que senti um pouco do que um extrovertido sente quando é
obrigado a se recolher. Eu sou arredio ao convívio social, mas gostava de vê-lo
acontecendo à minha volta. Ouvir conversas e até ver um pouco de movimento. Na
pandemia estava eu privado disso. E percebi que o isolamento o tempo todo não é
bom. E que o isolamento cercado de medos e inseguranças quanto ao futuro é algo
sufocante.
Gostei de estar isolado em alguns
momentos, mas em outros senti-me entediado e nervoso. Deu-me sensação de
sufoco, de estar um pouco abandonado e nesse tempo pude confirmar a máxima do
filosofo japonês Yoritomo Tashi: É na solidão que os pensamentos se transformam
tornando-se irreconhecíveis.
Mas é aquela velha historia
quando não se pode é que se quer. Apesar do meu jeito introvertido, me sinto as
vezes um pouco sufocado pelo fechamento que a pandemia traz. Não querer sair e
socializar é uma coisa, não poder fazer isso é outra diferente. Parece que
estar condicionado a um determinado comportamento nos faz sentir mal. Como se estivéssemos
nas grades de uma prisão. São
contradições que moram dentro de nós. Gostar de viver na solidão e nesse momento
sentir-se um pouco abandonado por viver nela.
A pandemia ensina-me como são
contraditórios as nossas emoções e os nossos valores. Queremos o que não temos.
E não damos valor ao que temos.